O ANDES-SN está do lado de movimentos sociais na luta contra as tensões e opressões, apoiando ações e políticas antirracistas dentro e fora do Sindicato Nacional. Nesse momento, diante de uma crise de saúde pública mundial, os povos e comunidades tradicionais sofrem duplamente porque em primeiro lugar têm violados os seus direitos fundamentais de acesso a bens públicos e coletivos, e agora são discriminados mais ainda com a incidência da pandemia da Covid-19.
Nesse cenário, estão as populações ciganas, que historicamente são alvos de racismo, preconceito e xenofobia. No país afora assistimos a maus-tratos e perseguições em diferentes comunidades e acampamentos e acompanhamos denúncias de pesquisadore(a)s, entidades de defesa dos povos ciganos, ministério público e defensoria pública acerca do sofrimento desse povo por negligência e abandono do Estado.
No ínício de fevereiro deste ano, o acampamento Nova Canaã, localizado na região da Rota do Cavalo, em Sobradinho-DF, foi invadido por pessoas armadas à luz do dia, atirando e ateando fogo nas barracas. O ataque resultou em quatro mortes. Por medo e insegurança o grupo foi obrigado a deixar a terra, onde ele(a)s já estavam desde 2014, abandonando conquistas de sua sobrevivência, como horta e criação de galinhas.
Na semana de 30/3 a 3/4 duas comunidades de cigano(a)s foram alvo de ciganofobia no Estado do Paraná, uma no município de Dois Vizinhos e outra no município de Guarapuava. Em menos de 24 horas mais de cem famílias ciganas foram desabrigadas desses municípios. Tais regiões são conhecidas como locais de "pouso" das famílias ciganas e depois da reclamação de vizinhos, alegando que qualquer pessoa em viagem não pode parar na cidade, fiscais da prefeitura acompanhados da força policial chegaram ao local mandando-o(a)s embora por serem considerados vetores da contaminação do novo coronavírus e poderiam infectar as pessoas da cidade, por estarem sujo(a)s, imundo(a)s e sem higiene.
Os povos ciganos têm, por tradição, o alojamento em barracas como seus abrigos para resguardar suas famílias, que geralmente são numerosas, com muitas crianças, jovens, adulto(a)s e idoso(a)s. Em tempos de pandemia do novo coronavírus os órgãos mundiais de saúde e assistência social pedem para todo(a)s exercermos o isolamento social com a permanência em casa. Portanto, as ações destes municípios vão na contramão das orientações internacionais de combate à pandemia da Covid-19 e deixam a população cigana sem a assistência e o apoio necessários para a manutenção da vida.
A pessoa racista e preconceituosa às vezes se ampara em instituições, igualmente racistas e preconceituosas, para distorcer fatos e usar algum estereótipo para destilar seu ódio. Lembramos que para matar quinhentos mil ciganos, Hitler usou o argumento das "raças superiores versus raças inferiores". Para propagar a percepção de que cigano(a)s eram "demônios encarnados", Heinrich Grellmann (1753-1804), filósofo, lingüista e historiador alemão, utilizou matérias sensacionalistas de jornais que acusavam “os ciganos” de canibais.
O ANDES-SN se junta aos movimentos sociais, IES, Grupos de Pesquisas e entidades defensoras dos Direitos Humanos, que repudiam essa medida arbitrária, desumana, cruel e ilegal e exige das autoridades públicas a inclusão dos povos e comunidades tradicionais (PCTs), como quilombolas, comunidades de terreiro, extrativistas, ribeirinho(a)s, caboclo(a)s, pescadore(a)s artesanais, indígenas e cigano(a)s nos Planos de Contigência dos Municípios.
Em defesa dos povos e comunidades tradicionais!
Em defesa da vida !
Basta de Bolsonaro/Mourão
Brasília (DF), 6 de abril de 2020
Diretoria Nacional do ANDES-SN