Vivemos em uma conjuntura não só de ataques aos nossos direitos sociais e trabalhistas, via reformas e medidas neoliberais, mas, também, pelos mais violentos ataques à nossa história de lutas, à memória e à cultura. O governo de extrema direita não mede esforços na sua tentativa de reescrever a história através da sua lupa autoritária, reacionária, racista e avessa aos rigores da ciência histórica.
O ANDES-SN tem muito orgulho de reivindicar o(a)s mártires dessa terra, como Margarida Alves, Josimo Tavares, irmã Dorothy, Chico Mendes, Negro Cosme, Zumbi e tanto(a)s outros e outras que tombaram lutando contra a escravidão da humanidade e da terra, muito(a)s dele(a)s suprimido(a)s das narrativas de uma pretensa “história oficial”. E para nós, o dia 13 de maio não é dia de comemorar, mas de relembrar que o Estado brasileiro tem uma dívida histórica com a população negra desse país, que, durante séculos, fora usada como mão-de-obra escrava e que, após a lei Áurea, foi deixada sem direitos, sem terra e sem a reparação necessária.
Dessa forma, consideramos ultrajante a tentativa do governo Bolsonaro, via o presidente racista da Fundação Palmares, de atacar a memória de Zumbi dos Palmares, tentando distorcer a história, buscando com isso impor uma narrativa reacionária que heroiciza a princesa Isabel, como se a liberdade, para o povo negro, tivesse sido conferida, e não sangrada numa longa processualidade histórica ainda inconclusa.
Reivindicamos, assim, a luta das comunidades quilombos, dos movimentos abolicionistas e do protagonismo da população negra no largo processo histórico de luta pela reparação e contra o racismo estrutural que hoje discrimina, encarcera e mata.
O repugnante posicionamento não apenas evidencia o caráter racista e obscurantista desse governo, mas, assumindo postura anticientífica – invocando referências como Olavo de Carvalho e Laurentino Gomes (ambos estranhos à crítica da história e seus procedimentos) –, adentra na disputa pela memória, sufocando vozes e distorcendo o passado, a fim de legitimar violências no tempo presente e reafirmar mitos como o da “democracia racial”.
Assim procedem os poderes que desejam a formação de espectadore(a)s dos fatos pretéritos e não agentes da própria história! Disputando o passado, acusando aqueles que desejam apagar nossa história de lutas, exatamente porque nos ocupamos das transformações necessárias ao tempo presente!
Brasília (DF), 14 de maio de 2020
Diretoria Nacional do ANDES-SN