No último dia 10 de abril, trabalhadoras e trabalhadores da Argentina realizaram a terceira greve geral contra o governo de Milei. Foi uma greve puxada pelas bases sindicais, movimentos sociais e organizações políticas, encampada por centrais sindicais, como a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a Central de Trabalhadores de Argentina-Autônoma (CTA-A) e a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), entre outras entidades sindicais. No dia anterior, como vem ocorrendo todas as quartas-feiras, os movimentos das(os) aposentadas(os) realizaram sua mobilização na Praça de Maio, palco das grandes lutas do povo argentino - como as internacionalmente conhecidas Maẽs da Praça de Maio, que se mobilizaram todas as quintas-feiras durante a ditadura fascista (1976-1983), em reivindicação de informação sobre suas(seus) filhas(os) desaparecidas(os) e contra as violações dos direitos humanos. As(os) aposentadas(os) têm sido uma das principais categorias prejudicadas pelo brutal “ajuste” fiscal - “o maior ajuste da história da humanidade”, como gosta de mencionar o presidente Mileil.
No dia seguinte, 12 de abril, foi anunciado um novo acordo com o FMI, instituição tristemente conhecida pelos povos, criado nos Acordos de Bretton Woods de 1944, responsável, junto com o Banco Mundial e a OMC (inicialmente GATT), pela “ordem” econômica imperialista do pós 2ª Guerra Mundial, articulada em torno dos interesses dos grandes monopólios dos EUA e do dólar estadunidense como moeda de reserva internacional. Moeda que os governos dos EUA utilizam em benefício próprio de forma a proteger seus interesses geopolíticos impondo sanções comerciais, financeiras e econômicas a todos seus desafetos. O sistema de Bretton Woods está atualmente numa aguda crise, derivada do declínio econômico relativo dos EUA e a emergência de novos atores na arena internacional, como no caso do conglomerado dos BRICS+, e a resistência cada dia maior dos povos e trabalhadoras(es) às consequências deletérias do desenvolvimento do capitalismo.
O acordo do governo argentino com o FMI é mais um passo na submissão histórica do povo argentino aos ditames dos centros imperialistas, um passo conduzido pelas oligarquias e burguesias entreguistas. Os governos argentinos já assinaram 23 acordos com o FMI. Este último acordo prevê um montante de 20 bilhões de dólares, dos quais 12 bilhões serão liberados imediatamente para reforçar as reservas do Banco Central; somado ao penúltimo acordo, assinado pelo governo Macri, em 2018 por 45 bilhões de dólares, a dívida com o FMI passa a ser de 60 bilhões de dólares americanos. Mais uma vez, a dívida aumenta sem aplicação desses recursos para melhorar a produção nem fazer investimentos nos serviços públicos, apenas para manter o valor da moeda e levantar o controle de câmbio (que as(os) argentinas(os) denominam como “cepo” cambial).
Docentes do país vizinho de todos os ramos da educação, em conjunto com o movimento estudantil, têm enfrentado este governo e suas políticas, com fortes mobilizações, paralisações, ocupações dos locais de trabalho e estudos. Trata-se de um processo de resistência e enfrentamento, já que os diversos setores da educação, e particularmente as instituições universitárias, são alvos fundamentais do ajuste fiscal e da ofensiva conservadora e negacionista do governo neofascista de Milei.
Para os próximos dias 22 e 23 de abril, os(as) docentes estão indicando uma paralisação de 48 horas pela pauta reivindicativa que inclui a reposição das perdas salariais - a inflação acumulada chega a 197% desde que Milei assumiu, enquanto que a reposição salarial foi entre 68% e 86%, a depender do cargo. Ao mesmo tempo, o dia 22 de abril lembra a grande Marcha Universitária, realizada um ano atrás, em defesa do orçamento, dos salários, da autonomia, da liberdade de cátedra, do conhecimento científico, da arte e da cultura nos espaços das instituições de ensino superior.
O ANDES-SN, em nome de professores e professoras das instituições de ensino superior, mais uma vez saúda as(os) professoras(es) da Argentina, as(os) trabalhadoras(es) e o povo argentino, pela exemplar luta e resistência contra o governo neofascista de Milei e a oligarquia financeira aliada aos interesses imperialistas, e também compromete sua solidariedade internacionalista e antiimperialista com o conjunto das lutas das(os) trabalhadoras(es).
Brasília (DF), 17 de abril de 2025.
Diretoria do ANDES - Sindicato Nacional