NOTA DA DIRETORIA NACIONAL DO ANDES-SN EM SOLIDARIEDADE AO POVO COLOMBIANO
Na última semana, o povo colombiano se levantou não só contra o governo de Iván Duque, último avatar de uma dinastia de narco-criminosos, mas contra todo um regime político cuja fachada “democrática” mal oculta sua raiz policial/militar, conivente com grupos paramilitares e apoiado pelo capital financeiro internacional e o FMI. Trata-se do regime que, nas últimas décadas, ostenta o recorde latino-americano e mundial de assassinatos de dirigentes e ativistas sindicais.
Os protestos contra o projeto reacionário de reforma tributária do governo, que elevava brutalmente os impostos pagos pelo(a)s trabalhadore(a)s, deixaram, até agora, um saldo de 21 mortos e mais de 800 ferido(a)s, além de pelo menos seis estupros, segundo informações da Defensoria Pública colombiana. Muitos do(a)s ferido(a)s foram vítimas de armas de fogo. O Escritório de Direitos Humanos da ONU acusou as agências de segurança colombianas de “uso excessivo da força” devido ao ocorrido em Cali na noite de 3 de maio, quando a polícia abriu fogo contra o(a)s manifestantes. O ministro da Defesa da Colômbia, Diego Molano, acusou grupos armados "criminosos" pela violência nos protestos. Diante dos protestos, o presidente Iván Duque pediu que o Congresso tirasse da pauta de votação o projeto de lei da reforma tributária para que este fosse revisado e virasse "fruto de consenso, de modo a evitar incerteza financeira". "A reforma não é um capricho, é uma necessidade", insistiu, no entanto, Duque.
A partir de 28 de abril, uma grande greve nacional contra a reforma paralisou a capital colombiana e o resto do país. Mais de 130 piquetes e mobilizações foram registrados em toda a Colômbia. Em Bogotá, o tráfego foi paralisado desde o início com piquetes nas entradas da cidade, garantidos por trabalhadore(a)s, estudantes e transportadore(a)s que aderiram à greve. Os cortes foram realizados atravessando caminhões, com pedras nas estradas e com pneus em chamas. A cidade foi o epicentro de uma grande mobilização que reuniu as centrais sindicais do país, as confederações de aposentados, estudantes públicos e privados, indígenas e camponeses. Houve confrontos com o esquadrão da morte Esmad, responsável por mais de uma dezena de assassinatos no ano passado, após a rebelião popular ocorrida na capital pelo assassinato de um jovem trabalhador pela polícia local. Medellín fechou o metrô. Em Bucaramanga, Tunja, Cartagena e outras cidades houve várias mobilizações e um panelaço a partir das 6 da tarde.
Com a reforma tributária, o governo tentava enfrentar um quadro de falência fiscal. A Colômbia teve um déficit fiscal de 7,8% em 2020, seu pior desempenho em meio século. Com a reforma, o governo pretendia arrecadar 6.300 milhões de dólares entre 2022 e 2031, às custas do bolso do(a)s trabalhadore(a)s e do povo; 87% da arrecadação viria dos salários e apenas 13% dos lucros capitalistas, em um quadro onde a pobreza já atinge 42,5% da população. Em 2019, havia 17,4 milhões de pobres; atualmente, há 21 milhões, em meio a um colapso da saúde causado pelo coronavírus. Os hospitais estão à beira do colapso e o(a)s profissionais de saúde estão exausto(a)s. A Colômbia acumula mais de 2,8 milhões de infecções e quase 74.000 mortes: é o quarto país com mais infecções e o quinto com mais mortes na América Latina e no Caribe.
O povo foi para as ruas!
A greve geral nos dias 28 e 29 de abril foi estendida durante os dias 30 de abril e 1º de maio. Tornou-se assim uma greve geral e uma rebelião popular com mobilizações, panelaços e lutas de rua contra as forças repressivas. O alcance das medidas de força, convocadas pela Comissão Nacional de Desemprego, que reúne as centrais sindicais (CUT, CGT e CTC), provocou uma primeira reação do presidente. Na sexta-feira 30, o governo anunciou uma modificação no projeto: as massas populares, já lançadas ao combate, insistiram na retirada total do projeto. Em 1º de maio, a rebelião se espalhou por todo o país e ganhou novo ímpeto. Além das manifestações na capital Bogotá, que se dirigiram à Plaza de Bolívar, próximo à sede do Poder Executivo, e à casa do presidente Duque, ocorreram enormes passeatas em Barranquilla, Medellín, Cali e Neiva. À tarde, as organizações camponesas anunciaram sua adesão ao protesto.
A rebelião popular foi respondida com a militarização das ruas. Senadore(a)s do partido no poder (o “Centro Democrático”) propuseram que se estabelecesse um estado de comoção interna, um estado de sítio. A “Frente Progressista”, de oposição, não mobilizou forças no dia 28, e apenas quebrou seu silêncio para repudiar os "saques" durante as mobilizações.
A mobilização colombiana está só em seu estágio inicial. Ela faz cambalear um regime chave para a manutenção da ordem imperialista na América Latina, no único país da América do Sul com costas no Atlântico e no Pacífico, com cinco bases militares norte-americanas, e, também, no Caribe. Uma nova etapa política pode começar no nosso continente. O combate contra o regime mais reacionário da região, o do genocida Bolsonaro, ganha um aliado de peso decisivo onde menos o capitão e sua corte militar o esperavam.
Organizemos demonstrações contra a repressão em todas as delegações diplomáticas colombianas!
Todo apoio ao povo colombiano em luta, já!
Brasília(DF), 6 de maio de 2021
Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional