NOTA DA DIRETORIA DO ANDES-SN DE SOLIDARIEDADE À DIRETORIA DA ADUNESP E DE REPÚDIO À PERSEGUIÇÃO POLÍTICA NO CAMPUS DA UNESP DE MARÍLIA
Em tempos em que governantes e figuras públicas fazem ode à violência política, exaltam o autoritarismo, laureiam torturadores, desdenham dos princípios e práticas democráticas e constrangem àquele(a)s que defendem direitos fundamentais, a universidade pública é, dentre as instituições do Estado, daquelas que podem, por seu próprio ato de ofício, contestar os poderes estabelecidos, impondo a reflexão crítica como tarefa primordial para a compreensão do tempo presente.
Salvaguarda das liberdades democráticas, a universidade é também a “ágora” onde o pensamento ganha o peso da contestação, do dissenso e, no entrechoque de ideias, da dialética necessária à edificação de saberes encarnados no mundo real e comprometidos com a transformação da realidade social, o que pressupõe, por quão duros sejam os embates, civilidade e respeito à diversidade.
Não foi o que ocorreu no campus Marília da Universidade Estadual Paulista (UNESP), já tão fustigada pelos experimentos neoliberais que pretendem a sua destruição como patrimônio do povo brasileiro e centro referencial da pesquisa acadêmica no Estado de São Paulo. Os ataques se ampliam, para além das restrições orçamentárias, às liberdades de pensamento e de expressão.
Ali, a democracia universitária e a autonomia da atuação sindical sofreram um duro golpe nos últimos dias, quando a subseção sindical da Associação dos Docentes, a ADUNESP, foi duramente atacada, na pessoa de seu presidente, o professor Henrique Tahan Novaes, perseguido politicamente pela diretoria acadêmica do campus quando exercia o seu direito primal à liberdade de expressão.
O procedimento persecutório, em forma de sindicância administrativa, fui instaurado sob mando do professor Marcelo Navega, nos últimos dias de seu mandato como diretor, amparado na descabida denúncia de que, em grupo privado de Whatsapp do coletivo de pesquisadore(a)s do qual o acusado faz parte, teria manifestado sua opinião pessoal sobre o processo eleitoral em curso, para a diretoria acadêmica do campus. Por ser presidente da subseção sindical e, nesta condição, membro da Comissão Eleitoral, desamparada a denúncia tanto de legalidade quanto desassistida de legitimidade, constitui uma afronta ao direito de manifestação sobre processo político que interessa a toda a comunidade acadêmica da UNESP, tanto como professor, quanto como dirigente sindical.
A UNESP tem história e, em especial, o campus Marília é marco de resistência e lutas pretéritas contra a repressão; e, na dialética da história, regressando o passado como “farsa”, a exceção vai tomando forma em atos persecutórios como este, ainda que vestidos da fantasia institucional da legalidade, via comum da prática de ilegitimidades. Trata-se de perseguição política e não vamos aceitá-la!
Exigimos o imediato arquivamento da sindicância administrativa e a retratação pública da diretoria acadêmica do campus Marília!
Se não a universidade (que não se reduz às suas direções e burocracias administrativas) não for locus de resistência aos obscurantismos, ao anti-iluminismo, à anticiência, ao fundamentalismo religioso e aos muitos discursos de ódio que se infiltram em seus muitos ambientes, ela terá deixado de existir no espírito que historicamente a anima e que, com o pensamento conservador, a disputa!
Isso para dizer que haverá luta! Haverá resistência! E o fascismo, vestido de academicismo na carnavalesca fantasia do burocrata e mui responsável “bom gestor”, não passará!
Brasília (DF), 12 de novembro de 2020
Diretoria Nacional do ANDES-SN