No último domingo (21), três lideranças indígenas Pataxó Hã-hã-hãe foram baleadas, durante um conflito com fazendeiros no município de Potiraguá, localizado no sul da Bahia. Maria de Fátima Muniz de Andrade, Nega Pataxó, foi assassinada e o seu irmão, o cacique Nailton Muniz, também foi atingido por tiros e segue internado. Ainda no conflito, pessoas foram feridas, mas não correm risco de morte.
Nega Pataxó era liderança espiritual e professora, com importante atuação junto à juventude e às mulheres indígenas e, com seu irmão, integrava redes de saberes tradicionais de universidades brasileiras, sendo doutora em Educação por Notório Saber pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O cacique Nailton também doutor por Notório Saber, em Comunicação Social, pela mesma universidade.
De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o ataque foi iniciado na madrugada de sábado (20) em uma ação orquestrada pelos fazendeiros, acompanhados pela polícia militar. Dezenas de caminhonetes cercaram a área da fazenda no território Caramuru.
O grupo, autointitulado “invasão zero”, se organiza através de mensagens em redes sociais, e convocou os fazendeiros e comerciantes para realizar a reintegração de posse da terra com as próprias mãos. Dois fazendeiros foram presos por porte ilegal de arma. Um vídeo mostra as feridas e os feridos no chão, ainda sem socorro, sendo cercados pelo grupo de ruralistas, que comemorava a violência.
O ANDES-SN, por meio de nota, manifestou seu repúdio à ação e sua solidariedade ao povo Pataxó Hã-Hã-Hãe. “Apoiamos todas as lutas pela demarcação e proteção de terras indígenas, garantindo a ocupação de seus territórios tradicionais. Além disso, manifestamos nosso repúdio à ação arbitrária de grupos armados que contou com a conivência das forças militares da Bahia. O estado ficou conhecido em 2023 por ter a Polícia Militar mais violenta do país e este triste episódio demonstra a conivência das forças armadas com o processo de militarização da questão social no Brasil", criticou.
Na segunda-feira (22), uma comitiva interministerial formada por autoridades do governo, entre elas, a ministra dos Povos Indígenas (MPI), Sônia Guajajara, e a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, visitaram os feridos. No encontro, as e os indígenas relataram a anuência da PM com os ataques e acusaram os policiais de omissão de socorro e de apoio aos fazendeiros.
Conflitos na região
De acordo com a Apib, esta é a segunda morte de lideranças Pataxó Hã-hã-hãe no último mês. Às vésperas do Natal, em 2023, o cacique Lucas Pataxó também foi assassinado, e os autores ainda não foram encontrados e responsabilizados. Ao longo de dez anos, 29 indígenas Pataxó Hã-hã-hãe foram assassinados devido à morosidade na demarcação e homologação das terras indígenas, segundo a organização.
Ainda em nota, o Sindicato Nacional exigiu que todos os envolvidos no ataque ao povo Pataxó Hã-hã-hãe sejam devidamente responsabilizados. "Exigimos rigorosa punição dos agentes estatais coniventes com a ação dos milicianos, assim como de todos os fazendeiros e pistoleiros envolvidos nesse episódio violento!", concluiu a nota.
Veja a nota completa na Circular nº 029/2024
Com informações da Apib e MPI