Em nota divulgada nesta quinta-feira (4), a Diretoria do ANDES-SN expressa solidariedade e apoio à professora e pesquisadora Maria Caramez Carlotto, da Universidade Federal do ABC (UFABC), que recentemente enfrentou uma decisão desfavorável, de cunho machista e misógino, no processo de avaliação para a concessão de bolsa de produtividade (PQ) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Um dos pareceristas responsáveis por avaliar o projeto usou as gestações da pesquisadora para justificar a negativa à concessão da bolsa. "Resultado preliminar da bolsa produtividade @CNPq_Oficial reconhece minha carreira, mas aponta que não fiz pós-doc fora. Pandemia? Gov. Bolsonaro? não... "provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas, o que poderá ser compensado no futuro". Vontade de chorar.", divulgou Maria Carlotto, em uma de suas redes sociais, no último dia 26.
Para a diretoria do Sindicato Nacional, o parecerista responsável pela avaliação emitiu um juízo de valor permeado por preconceitos, revelando uma postura machista e misógina, impregnada de viés de gênero.
“É inadmissível avaliar o desempenho profissional de uma mulher com base em critérios sexistas, como a conjectura de que gestações possam ser um obstáculo para suas aspirações acadêmicas. Tal argumento reforça estereótipos ultrapassados que prejudicam o avanço da igualdade de gênero no ambiente acadêmico. A gestação e a maternidade não devem ser consideradas entraves à carreira de uma pesquisadora, e é inaceitável que tais fatores sejam utilizados como justificativa para negar oportunidades de reconhecimento e desenvolvimento profissional. A parentalidade envolve responsabilidades que podem afetar a carreira de docentes e pesquisadora(e)s de forma distintas, assim, é imprescindível que a comunidade acadêmica reconheça a disparidade de impacto entre homens e mulheres”, afirma a nota.
Após a repercussão do caso, o CNPq emitiu nota de esclarecimento a respeito do parecer, afirmando que “tal juízo foi formulado em parecer ad hoc, não tendo sido corroborado pelo comitê assessor responsável pelo julgamento, o qual fez análise de mérito comparativo com as propostas da mesma área apresentadas no edital e sopesando a disponibilidade de recursos orçamentários, sem considerar tal parecer.”
Carlotto reconheceu, também em postagem na rede social X, a importância do órgão “reagir ao absurdo do parecer dado ao meu pedido de bolsa produtividade”, mas apontou a responsabilidade do Conselho em não ter anulado a avaliação.
“Foi, sim, um erro do parecerista Ad hoc, mas foi tbm (sic) do CNPq q deveria ter interditado o parecer como um todo. Na prática, o CNPq me incentivou a submeter um projeto pós licença maternidade e me submeteu, depois, a uma violência de gênero”, postou a pesquisadora.
“Vale lembrar que as bolsas produtividade são talvez dos espaços mais desiguais, em termos de gênero, de todo o sistema científico. Isso o CNPq precisa olhar com muita atenção e propor políticas efetivas”, acrescentou.
A diretoria do ANDES-SN também cobrou que o CNPq tome as providências necessárias para promover formação política e pedagógica sobre o viés de gênero na academia, especialmente sobre os impactos da maternidade nas carreiras de docentes e pesquisadoras que decidem ser mães. “A conscientização e a implementação de medidas que combatam o sexismo e a discriminação de gênero em todos os processos de avaliação acadêmica devem ser a tônica nas universidades, CEFETs e IFs, e também nas agências de financiamento à pesquisa, sejam nacionais ou regionais (FAPs)”, ressalta.
“A luta por uma academia justa, igualitária e livre de discriminação é responsabilidade de todas e todos nós, e a solidariedade é um passo fundamental nesse caminho. Infelizmente, o caso em tela não é isolado. Há inúmeros relatos de arbitrariedades sexistas na academia, denotando que o efeito é sistêmico”, lembra a diretoria do Sindicato Nacional.
Confira aqui a íntegra da Nota.
*Imagem: MCTIC/Divulgação