Mais de 5 mil mulheres indígenas de 172 povos originários participam da II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas que ocorrem em Brasília (DF). Com o tema “Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da Terra”, o evento teve início na terça-feira (7) e se estenderá até o dia 11 de setembro. As indígenas chamam a atenção do Brasil e do mundo para pautas fundamentais como o fim da violência de gênero e o Marco Temporal, entre outras. O Marco Temporal está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) e determina que os povos originários só teriam direito às terras ocupadas na data da promulgação da Constituição, 5 de outubro de 1988.
A II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas é organizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e já está na sua segunda edição. Porém esse ano, em decorrência das ameaças proferidas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro às indígenas, a marcha ainda não pode ser realizada. Com discursos agressivos contra os povos originários e a própria Corte, eles pregam ainda golpe militar e o fechamento do Congresso. Até essa quinta-feira (9), parte do grupo bolsonarista que veio à capital federal para ato no dia 7 de setembro ainda estava obstruindo a Esplanada dos Ministérios.
“Viemos de todo o país realizar nosso encontro de mulheres, em um diálogo sobre as nossas pautas e acompanhar o que pode ser o julgamento mais importante para os direitos indígenas no país em décadas. O Marco Temporal é uma aberração jurídica, elaborada por aqueles que financiam essas manifestações antidemocráticas, e que a todo custo, historicamente, tentam calar nossa voz, subjugar nossos corpos, assim como já fizeram no passado”, diz um trecho da nota divulgada nesta quinta (9), pela Anmiga e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
As mulheres seguem no acampamento na Fundação Nacional de Artes (Funarte) e após reuniões realizadas na manhã desta quinta (9), ficou definido que a II Marcha das Mulheres Indígenas será realizada nesta sexta-feira (10). “A II Marcha das Mulheres Indígenas sairá amanhã do nosso acampamento, para as ruas, com nossos corpos e nossas vozes ecoantes na luta por justiça, por liberdade e pela demarcação de nossas terras sagradas ancestrais”, afirmam.
Para Zuleide Queiroz, 2ª vice-presidenta do ANDES-SN e da coordenação de Políticas de Classe para as Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS), o fato do encontro ter se concretizado esse ano em Brasília, no contexto de pandemia e de tantos ataques, mostra a resistência dos povos originários e das mulheres indígenas do país que são “exemplos importantes, principalmente, para o movimento feminista no Brasil e no mundo”.
“As mulheres indígenas estão lutando pelos seus direitos e contra o fascismo e tiveram o direitos de marchar pacificamente pelas ruas de Brasília negado em decorrência de ameaças. O judiciário e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal não conseguem dar a segurança necessária para que elas tenham direito de reivindicar suas pautas. Enquanto que bolsonaristas puderam furar bloqueio, quebrar materiais para ter acesso à Esplanada dos Ministérios. Isso só demonstra a violência de gênero ao privar essas mulheres de ir e vir pelas ruas do Brasil como um todo e, especialmente, em Brasília”, disse.
Programação
Desde o dia 7 de setembro, as mulheres seguem mobilizadas no acampamento e através de lives divulgando a defesa dos biomas, da biodiversidade, contra o Marco Temporal e toda agenda anti-indígena promovida pelo governo federal e Congresso Nacional. Na quarta-feira (8), o dia iniciou com um ritual em memória às meninas indígenas Raissa Guarani Kaiowá e Daiane Kaingang, adolescentes violentadas e mortas no Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, respectivamente, alguns dias antes de começarem as mobilizações indígenas em Brasília, em agosto de 2021.
A diretora do Sindicato Nacional expressou repúdio às violências sofridas pelas crianças. “Precisamos fazer uma grande denúncia, porque além de ser um corpo feminino, é um corpo de criança e envolve questões do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as leis da Maria da Penha e do feminicídio. São ordenamentos legais que estão sendo rasgados nas mortes das duas pequenas indígenas e a morte delas se soma à quantidade de mulheres que são mortas e violentadas, inclusive enquanto falamos aqui. A cada três minutos, uma mulher sofre violência. A cada seis minutos, cárcere privado”, ressaltou.
Julgamento
Ainda na quarta (8), todo o acampamento se concentrou na tenda principal para assistir a transmissão do julgamento no STF que decidirá o futuro das demarcações de terras indígenas em todo o país. Com um telão instalado na tenda principal do acampamento, as mulheres indígenas reservaram parte da programação para acompanhar a sessão no STF que, de maneira frustrante, foi encerrada mais uma vez sem iniciar os votos dos ministros sobre o mérito do processo. A sessão está prevista para retornar nesta quinta (9).
As mobilizações indígenas em Brasília ocorrem desde o dia 22 de agosto, quando se iniciou o acampamento Luta Pela Vida. Denunciando a agenda anti-indígena do governo federal e Congresso Nacional, mais de 150 povos de todas as regiões do Brasil ocupam Brasília durante o mês de setembro.
Com informações de Anmiga e Brasil de Fato. Fotos: Fran Rebelatto.
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