Apesar do genocídio em Gaza, Brasil mantêm acordos de cooperação com Israel

Publicado em 09 de Outubro de 2024 às 15h14. Atualizado em 09 de Outubro de 2024 às 17h01

Mais de um ano após o início do conflito em Gaza, ativistas e organizações da sociedade civil têm denunciado a continuidade dos acordos de cooperação entre o Brasil e Israel. No último domingo (6), um ato político e cultual realizado no Eixão do Lazer em Brasília (DF), promovido por movimentos de solidariedade à Palestina, marcou a data do início do conflito e a falta de ação do governo em revisar ou suspender os acordos internacionais com Israel.

Handala, personagem do cartunista Naji Al-Ali, e bandeira do Líbano ilustram ato político pela Palestina em Brasília - Foto: Camila Araujo/BdF

Desde 7 de outubro de 2023, data do ataque do Hamas a Israel e da resposta militar sem precedentes do governo israelense contra a população palestina na Faixa de Gaza, o Brasil se posicionou como defensor dos direitos humanos. No entanto, a manutenção de acordos bilaterais com Israel levanta questões sobre a coerência da política externa do país. 

Os acordos em questão abrangem áreas como segurança, defesa e tecnologia, iniciados em anos anteriores. Para as e os manifestantes, manter esses acordos é contribuir para o genocídio na região. 

Em abril deste ano, o grupo israelense Elbit Systems venceu uma licitação para fornecer 36 veículos blindados ao Exército brasileiro, no valor de quase R$ 1bilhão. No entanto, Celso Amorim, assessor especial da Presidência, convenceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a adiar a compra, alegando que isso poderia financiar indiretamente os ataques ao povo palestino e, recentemente, ao povo libanês. 

Lula, que foi declarado "persona non grata" por Israel após comparar a situação das palestinas e dos palestinos ao Holocausto, enfrenta críticas de ambos os lados.  O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que o Palácio do Planalto está interferindo nas decisões da pasta por “questões ideológicas”.

Neste contexto do conflito, a Câmara dos Deputados aprovou três novos acordos de cooperação entre Brasil e Israel, onze dias após a nova escalada de agressões na região, em 18 de outubro de 2023. Os textos aguardam análise do Senado. Um dos acordos aprovados (PDL 554/21) trata da cooperação entre o Brasil e Israel em investigações, uso da tecnologia da informação, troca de experiências em situações de crise, além de ações de inteligência.

O Itamaraty não respondeu aos questionamentos da reportagem do Brasil de Fato sobre um possível rompimento das relações diplomáticas com o Estado de Israel. Em nota, afirmou que "manifestou reiteradas vezes ao longo deste ano, em nome do governo brasileiro, posicionamento de condenação aos ataques terroristas do Hamas à resposta desproporcional de Israel e à consequente tragédia humanitária em Gaza". O ministério também expressou apoio a um cessar-fogo imediato, à liberação incondicional dos reféns e à facilitação de entrada de ajuda humanitária em Gaza.

As manifestações contra o genocídio do povo palestino têm crescido em universidades, instituições e países ao redor do mundo. Recentemente, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução pedindo o fim da ocupação ilegal de Israel na Palestina. Nessa segunda-feira (7), o Comitê em Solidariedade à Palestina do DF protocolou um documento junto à ONU cobrando que a entidade "assuma seu papel institucional e legal, em defesa do povo palestino".

De acordo com dados da Al Jazeera, até 7 de outubro deste ano, pelo menos 41.909 palestinas e palestinos foram mortos e 97.303 ficaram feridos em ataques israelenses em Gaza, desde outubro de 2023. Cerca de 69% das vítimas são crianças e mulheres. Em Israel, 1.139 pessoas foram mortas nos ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 e mais de 200 pessoas foram feitas prisioneiras. Além das vidas ceifadas, casas, hospitais, universidades, supermercados e lojas foram destruídos, agravando ainda mais a crise humanitária.

ANDES-SN na luta
O ANDES-SN tem uma longa história de apoio à luta palestina, iniciada em 2003, com ações de solidariedade e boicote ao Estado de Israel. Em 2018, aderiu à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). No 42º Congresso, em 2023, aprovou a moção "Não é guerra, é genocídio!", e no 67º Conad decidiu lutar pelo rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Israel.

Com informações de Brasil de Fato

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