Mais de um ano após o início do conflito em Gaza, ativistas e organizações da sociedade civil têm denunciado a continuidade dos acordos de cooperação entre o Brasil e Israel. No último domingo (6), um ato político e cultual realizado no Eixão do Lazer em Brasília (DF), promovido por movimentos de solidariedade à Palestina, marcou a data do início do conflito e a falta de ação do governo em revisar ou suspender os acordos internacionais com Israel.
Desde 7 de outubro de 2023, data do ataque do Hamas a Israel e da resposta militar sem precedentes do governo israelense contra a população palestina na Faixa de Gaza, o Brasil se posicionou como defensor dos direitos humanos. No entanto, a manutenção de acordos bilaterais com Israel levanta questões sobre a coerência da política externa do país.
Os acordos em questão abrangem áreas como segurança, defesa e tecnologia, iniciados em anos anteriores. Para as e os manifestantes, manter esses acordos é contribuir para o genocídio na região.
Em abril deste ano, o grupo israelense Elbit Systems venceu uma licitação para fornecer 36 veículos blindados ao Exército brasileiro, no valor de quase R$ 1bilhão. No entanto, Celso Amorim, assessor especial da Presidência, convenceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a adiar a compra, alegando que isso poderia financiar indiretamente os ataques ao povo palestino e, recentemente, ao povo libanês.
Lula, que foi declarado "persona non grata" por Israel após comparar a situação das palestinas e dos palestinos ao Holocausto, enfrenta críticas de ambos os lados. O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que o Palácio do Planalto está interferindo nas decisões da pasta por “questões ideológicas”.
Neste contexto do conflito, a Câmara dos Deputados aprovou três novos acordos de cooperação entre Brasil e Israel, onze dias após a nova escalada de agressões na região, em 18 de outubro de 2023. Os textos aguardam análise do Senado. Um dos acordos aprovados (PDL 554/21) trata da cooperação entre o Brasil e Israel em investigações, uso da tecnologia da informação, troca de experiências em situações de crise, além de ações de inteligência.
O Itamaraty não respondeu aos questionamentos da reportagem do Brasil de Fato sobre um possível rompimento das relações diplomáticas com o Estado de Israel. Em nota, afirmou que "manifestou reiteradas vezes ao longo deste ano, em nome do governo brasileiro, posicionamento de condenação aos ataques terroristas do Hamas à resposta desproporcional de Israel e à consequente tragédia humanitária em Gaza". O ministério também expressou apoio a um cessar-fogo imediato, à liberação incondicional dos reféns e à facilitação de entrada de ajuda humanitária em Gaza.
As manifestações contra o genocídio do povo palestino têm crescido em universidades, instituições e países ao redor do mundo. Recentemente, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução pedindo o fim da ocupação ilegal de Israel na Palestina. Nessa segunda-feira (7), o Comitê em Solidariedade à Palestina do DF protocolou um documento junto à ONU cobrando que a entidade "assuma seu papel institucional e legal, em defesa do povo palestino".
De acordo com dados da Al Jazeera, até 7 de outubro deste ano, pelo menos 41.909 palestinas e palestinos foram mortos e 97.303 ficaram feridos em ataques israelenses em Gaza, desde outubro de 2023. Cerca de 69% das vítimas são crianças e mulheres. Em Israel, 1.139 pessoas foram mortas nos ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 e mais de 200 pessoas foram feitas prisioneiras. Além das vidas ceifadas, casas, hospitais, universidades, supermercados e lojas foram destruídos, agravando ainda mais a crise humanitária.
ANDES-SN na luta
O ANDES-SN tem uma longa história de apoio à luta palestina, iniciada em 2003, com ações de solidariedade e boicote ao Estado de Israel. Em 2018, aderiu à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). No 42º Congresso, em 2023, aprovou a moção "Não é guerra, é genocídio!", e no 67º Conad decidiu lutar pelo rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Israel.
Com informações de Brasil de Fato
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