Audiência na Câmara de Deputados debateu privatização de parte da UFRJ

Publicado em 22 de Junho de 2023 às 17h51. Atualizado em 22 de Junho de 2023 às 18h17

O ANDES-SN participou, nessa quarta-feira (22), de uma audiência pública contra a privatização de parte do campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Estiveram presentes na Câmara dos Deputados para tratar do assunto, a presidenta do Sindicato Nacional, Rivânia Moura, da ex-presidenta do ANDES-SN e representante do Movimento UFRJ não está à venda, Marinalva Oliveira, além de representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRJ, do Sindicato de técnicos da universidade (Sintufrj) e de demais membros da comunidade acadêmica e da sociedade civil.

A cessão, por no mínimo 30 anos, de parte do espaço público da universidade aconteceu em fevereiro deste ano, no âmbito do Projeto de Valorização do Patrimônio da UFRJ, que prevê a entrega de 15 mil m² da área onde hoje funcionam projetos de extensão, ligados a desportos, atividades culturais e de saúde mental. A área foi leiloada para o Consórcio Bonus-Kleffer, que pretende construir uma casa de shows com capacidade para 7 mil pessoas. O projeto coloca em risco projetos da universidade, além da fauna e flora local.

Segundo Marinalva Oliveira, a reitoria utilizou-se do argumento falacioso de que a cessão resolveria os recorrentes cortes orçamentários que a universidade vem sofrendo, para entregar parte do patrimônio público ao Capital privado.

“[Essa cessão] vai comprometer projetos de extensão e de pesquisa que são realizados ali e isso tem repercussão direta no ensino. Ao deliberar por essa cessão, a UFRJ está disponibilizando parte do patrimônio público que é da sociedade, que é do povo, sob sua responsabilidade, está reduzindo drásticamente os papéis da universidade e a está entregando aos capitais, numa autêntica forma de privatização não-clássica, por um uso de 30 anos. E quem é ingênuo aqui para achar que eu vou ceder um terreno por 30 anos e daqui a 30 anos vão nos devolver ele intacto, ou seja, com benefícios para a população? Isso é o modelo de privatização não-clássica que a UFRJ está fazendo e que está atingindo a nossa autonomia universitária”, afirmou a docente representante do Movimento UFRJ não está à venda.

A representante do DCE da UFRJ, Isadora Camargo, denunciou a falta de diálogo com a comunidade acadêmica e o atropelo dos espaços democráticos e mudanças obscuras no decorrer do projeto.

“Na prática mentiram para a gente. Trocaram de sala e fizeram um leilão às escondidas sem que a gente pudesse estar presente. Enquanto estudante a gente fica muito ofendido, porque ao mesmo tempo que nos é escondido todo o processo, é uma luta muito grande para a gente conseguir ter qualquer nível de debate sobre algo que diz respeito ao nosso campus, lembrando que quando se fala de comunidade acadêmica, estudantes são a maior parte, e quando se trata de deliberação interna e externa na universidade, nós somos sempre minoria. Os conselhos e todos os espaços usaram disso, na prática, para que a gente não tivesse qualquer nível de interferência na deliberação sobre o projeto”, afirmou a representante do DCE da UFRJ.

De acordo com Isadora, a reitoria se utiliza do argumento de que a privatização do espaço é necessária para ampliar os recursos para assistência estudantil, e que não haveria outra alternativa financeira que desse cabo das necessidades acadêmicas, inclusive estudantis. “Usam pautas que são tão caras para a gente, como a nossa alimentação no cotidiano, moradia, nossas condições de ensino para justificar algo que não nos cabe. Isso é outra falácia”, ressaltou.

Rivânia Moura, presidenta do ANDES-SN, reforçou que o modelo de concessão utilizado pela gestão da UFRJ é uma forma de entrega do patrimônio público à iniciativa privada e que é fundamental que a sociedade se una no combate à privatização das universidades públicas.

“Inúmeras têm sido as formas de privatização da educação, em especial da educação superior em nosso país. A gente tem convivido com as privatizações internas por meio das fundações, pela venda das pesquisas e seus resultados , pela instalação de empresas privadas dentro do espaço das universidades, pelas terceirizações que têm empregado para uma exploração absurda trabalhadores da limpeza, da segurança e do transporte dentro das nossas universidades há muito tempo. Nós temos vivido um processo ampliado de plataformização do nosso trabalho, que significa também entrega de dinheiro público para a especulação em empresas privadas que dominam essas plataformas”, elencou Rivânia.

A presidenta do Sindicato Nacional ressaltou que, dentre os diversos modos como o processo de privatização se instala nas universidades, chama muita atenção a venda de parte do patrimônio da UFRJ. “Nós estamos permitindo que esse espaço público seja objeto de lucro de especulação financeira, o que já seria desastroso se fosse só por 30 anos. Mas estamos abrindo mão de um espaço para que, cada vez mais, a lógica do Capital avance sobre a educação pública”, alertou, convocando a categoria docente e toda a sociedade a se unir na luta em defesa da UFRJ e das demais universidades públicas brasileiras.

A audiência pública foi convocada pelo deputado federal Glauber Braga (PSol/RJ) e contou, ainda, com a participação de Waldir Ramos, da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ, de Vantuil Pereira, Decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, de Carlos Vainer, coordenador da Rede de Observatórios de Conflitos Urbanos e do Núcleo Experimental de Planejamento Conflitual da UFRJ, Marta da Silva Batista, do Sintufrj, e Mário Guimarães Júnior, representante da FASUBRA Sindical, como membros da comunidade acadêmica. Também houve falas de representantes da sociedade civil, como o cineasta Silvio Tendler e a atriz Lucélia Santos, que destacaram a importância da luta em defesa do patrimônio da UFRJ.

Você pode assistir a audiência pública na íntegra em nosso canal do Youtube.

 

 

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