Caminhada na Bahia marcará história de resistência dos tupinambás e demais povos originários da região

Publicado em 23 de Setembro de 2022 às 17h04. Atualizado em 23 de Setembro de 2022 às 17h10
Docentes divulgam manifesto em apoio às comunidades indígenas de Olivença e do extremo Sul da Bahia. Foto: Prefeitura de Ilhéus

 

Neste domingo (25), será realizada a XXII Caminhada em Memória aos Mártires do Massacre no Rio Cururupe. O evento terá início às 08h30, com saída da Igreja Nossa Senhora da Escada, na Praça de Olivença, distrito de Ilhéus (BA).

Como um marco na história de resistência dos tupinambás e demais povos originários da região, o massacre do Cururupe ocorreu em 1559, quando o então Governador Geral da Bahia Mem de Sá viaja de Salvador para Olivença, executando todo indígena que encontrava pelo caminho. O genocídio é contado pelo próprio Mem de Sá, em carta enviada ao Rei de Portugal.

“Nossos parentes que sobreviveram ao ataque inicial foram à caça do governador, mas acabaram caindo em um cerco no Rio Cururupe, sendo obrigados a nadar. Por isso muitos livros colocam como batalha dos nadadores. Mas não foi uma batalha. Batalha é quando você tem armas iguais, o que ele fez foi um massacre”, afirma o professor Casé Angatu, criticando a forma como livros de história relatam o massacre.

O docente é morador da Aldeia Gwarïnï Taba Atã e membro do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Santa Cruz (DFCH/Uesc) e do Programa de Pós-graduação em Ensino e Relações Étinco-Raciais da Universidade Federal do Sul da Bahia (PPGER/UFSB).  “Mem de Sá narra na carta que enfileirou os corpos em uma distância de mais ou menos 7km. Por isso nossa caminhada sai de Olivença e se encerra no Cururupe, que dá cerca de 7km”, explica Casé Angatu.

De acordo com o professor, outra motivação para a caminhada é a memória do Indígena Caboclo Marcelino. Nas décadas de 30 e 40, Marcelino se revolta contra os coronéis do cacau, por ser contra a construção da ponte sob o Rio Cururupe.

“Marcelino é preso, torturado, acusado de comunista pela lei de segurança nacional. Conta a história que ele foi deixado nas margens do Rio Cururupe e desapareceu. Então, a caminhada também relembra a resistência do Indígena Caboclo Marcelino”, explica.

O resgate histórico da luta dos povos indígenas se associa aos recorrentes ataques que diversas aldeias têm sofrido pelo Brasil. No extremo sul da Bahia, uma ação violenta de pistoleiros levou à morte um garoto de 14 anos de idade e feriu outro adolescente pataxó.

“Tivemos acesso à gravação dos pistoleiros, falando que iriam meter tiro mesmo. Nossos parentes pataxós ainda estão sob ameaça, pois eles sabem quem somos nós, mas nós não sabemos quem são eles. O Estado da Bahia e o governo federal na mão desse fascista não nos protegem. Por isso não podemos ter o segundo mandato do atual presidente da República. Nós vamos morrer!”, alerta o professor.

Manifesto docente
Um manifesto em apoio às comunidades indígenas de Olivença e do extremo Sul da Bahia foi publicado nesta sexta-feira (23) e será divulgado durante a caminhada. No documento é assinado pelos Grupos de Trabalho Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA) da Associação de Docentes da Uesc (Adusc) e do Sindicato de Docentes da UFSB (SindiUFSB), seções sindicais do ANDES-SN. No manifesto, os GTs se comprometem a acompanhar e prestar apoio à luta pelo território e pelo direito à vida dos povos indígenas.

“Este coletivo propõe-se a acompanhar e prestar apoio às Comunidades Indígenas em luta pelo Território e Demarcação Imediata das Terras Indígenas, e em especial, pelo direito à vida das pessoas que estão ameaçadas por pistoleiros, fortemente armados, contratados por grileiros que querem expulsar as comunidades indígenas através da violência política e assassinato. Entendemos que esta situação deve ser denunciada em todos os órgãos e instituições que atuam na região, especialmente por aquelas que devem atuar na mediação dos conflitos agrários, ambientais e de preservação da vida dos povos indígenas”, afirmam no texto.

“Dessa forma, colocamo-nos em vigilância e em apoio às Comunidades Indígenas do Sul e Extremo Sul da Bahia, na preservação da vida e pela coexistência pacífica em seus Territórios”, acrescentam. Leia aqui o Manifesto na íntegra.

*Fonte: Adusc SSind. com edição do ANDES-SN

Leia também:
Indígenas protestam em Brasília para denunciar escalada de violência contra seus povos

Semana é marcada por escalada de ataques e assassinatos aos povos indígenas da Bahia e do Maranhão

 

Compartilhe...

Outras Notícias
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
EVENTOS
Update cookies preferences