Cerca de 15% das e dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos - o equivalente a 7,6 milhões de pessoas - não frequentavam escola formal, não trabalhavam e não estavam procurando trabalho em 2021. Os motivos e a quantidade de jovens que estavam nessa situação variaram conforme a renda familiar, segundo o estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e divulgado em dezembro passado.
O levantamento teve como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2021, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/IBGE), o que permitiu considerar todos os rendimentos das famílias, como benefícios assistenciais, previdenciários e o rendimento do trabalho. De acordo com o Dieese, se fossem considerados as e os jovens que não estavam estudando nem trabalhando, mas procuravam emprego, a conta seria ainda maior: cerca de 12,7 milhões de brasileiras e brasileiros (26% do total de jovens entre 15 e 29 anos).
Ao longo da faixa de 15 a 29 anos de idade, a situação muda significativamente na transição escola/mercado de trabalho. Entre aquelas e aqueles de 15 a 18 anos, a maior parte frequenta a escola de ensino regular, principalmente o ensino médio. Depois, a situação predominante é a participação no mercado de trabalho, com uma ocupação efetiva ou à procura de uma.
Baixa renda x alta renda
Nas famílias de baixa renda, aquelas cujo rendimento domiciliar per capita era de no máximo 0,5 salário mínimo, a proporção de jovens que conseguia conciliar a presença na escola com o trabalho era bem pequena em 2021. Também era relativamente baixa a proporção daqueles que só trabalhavam ou estavam procurando trabalho, em comparação com a média total e com os jovens de famílias de renda mais alta.
Considerando todos os jovens de baixa renda (cerca de 19,9 milhões), aproximadamente 24% (4,8 milhões) não frequentavam a escola, não trabalhavam e não estavam em busca de trabalho, sobretudo a partir dos 20 anos de idade.
Essa proporção era praticamente a mesma daqueles que não frequentavam a escola, mas estavam trabalhando (23%). Destaca-se ainda o percentual de jovens de baixa renda que, embora não estivesse frequentando escola nem trabalhando, procurava trabalho (16%).
Já as e os jovens de famílias de alta renda encontravam menos dificuldade de inserção no mercado de trabalho. A maioria trabalhava em 2021 e parcela ínfima buscava trabalho. Além disso, cerca de 23% conseguia frequentar a escola e trabalhar ou realizar estágio de ensino superior.
O percentual de jovens de alta renda que não frequentava escola, não trabalhava e não buscava trabalho era bem pequena, exceto entre aqueles com 18 ou 19 anos de idade. Os dados sugerem que essa parcela não estava frequentando ensino regular, que é a categoria pesquisada pelo IBGE, mas outros cursos, como os pré-vestibulares.
Diferente das e dos jovens de baixa renda, boa parte das pessoas de alta renda consegue cursar o ensino superior e, simultaneamente, realizar estágios para o desenvolvimento profissional em ambiente de trabalho.
Empecilhos
Entre as e os jovens que não estudam no ensino regular, não trabalham e também não buscavam ocupação, 40% dos jovens de baixa renda afirmaram ter necessidade de cuidar dos afazeres domésticos, de familiares, das filhas e dos filhos ou tinham problemas de saúde e, em outros casos, passavam por gravidez. O estudo do Dieese ainda destaca que essas tarefas, em geral, são realizadas principalmente pelas mulheres, o que confere à questão não só recorte socioeconômico, mas também de gênero.
Entre as e os jovens de alta renda, a principal resposta foi estarem estudando (55%), no caso, outros cursos e não ensino regular. "Como ficou claro, há enorme disparidade nas situações da juventude que não frequenta escola, não trabalha e não busca trabalho, quando se leva em conta a renda familiar. Enquanto os mais ricos se preparavam para ingressar no ensino superior, em momento etário bem específico, entre os mais pobres, uma proporção menor tinha essa perspectiva, com um grupo relevante, formado principalmente por mulheres, obrigado a cuidar dos afazeres domésticos e de pessoas da família", aponta a pesquisa do Dieese.
A entidade sugere ainda que, para minimizar as desigualdades, é importante ampliar as redes públicas de creches e de cuidados de pessoas, oferecer bolsas de estudo, aprimorar os serviços de intermediação e qualificação de mão de obra.
Acesse aqui o relatório do Dieese