Em mais uma mostra do ataque à democracia na Universidade Federal do Ceará (UFC), o professor Nonato Lima, diretor há mais de 15 anos e defensor de vida inteira da Rádio Universitária FM, foi afastado de seu cargo. Segundo o docente, pressões apresentadas pela Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC), mantenedora da rádio, tornaram inviável sua permanência. Houve tentativas de censurar o jornalismo praticado com responsabilidade social e autonomia pela equipe da rádio, e até mesmo a veiculação de músicas com ritmos de matriz africana.
A presidência da FCPC é de livre nomeação pelo reitor da UFC. O atual presidente da fundação foi nomeado pelo interventor Cândido Albuquerque. Em nota, o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC), destaca que “em toda a história da Rádio Universitária, fundada em 1981, não se tem notícia de interferências abusivas desse tipo, caracterizadas como CENSURA e com graves indícios de racismo e intolerância religiosa. É óbvio que, sem a chancela da intervenção na UFC, a permanência do presidente da FCPC no cargo seria hoje insustentável”.
A ADUFC ressalta ainda que a Rádio Universitária FM, referência nacional em radiodifusão pública e com mais de 40 anos de história, é um patrimônio da UFC e do Ceará, sendo expressão de um sistema público que é fundamental para a democracia. A emissora é fundamental exatamente por garantir diversidade de vozes, sons e histórias, por abrir espaço para o debate de ideias, sempre pautado pela responsabilidade social e pelo compromisso com a informação, em atendimento ao que deve guiar, segundo a Constituição Federal, a radiodifusão no país. “Por seu caráter, a rádio não deve estar sujeita a interferências de qualquer tipo. Para que tenha autonomia, é fundamental que o corpo profissional da rádio seja respeitado e valorizado, bem como sua direção imediata”, defende.
A entidade sindical lembra ainda que a Rádio sofre, também, com a falta de investimentos, especialmente durante a pandemia quando foi necessário adaptar os procedimentos para produção e transmissão remota. “A ADUFC tomou conhecimento, ainda, de que conteúdos do sindicato, veiculados a partir de parceria com a emissora via Fundação, também motivaram questionamentos intimidatórios. O sindicato também se coloca à disposição para as ações jurídicas e políticas necessárias”, denuncia.
“Os ataques e as práticas de silenciamento no caso da RUFM se somam a outros que temos vivenciado na UFC, seja por meio de processos administrativos, perseguição política a docentes e discentes, notas desinformativas, uso personalista da comunicação oficial e demais expedientes antidemocráticos useiros e vezeiros na administração superior sob intervenção”, acrescenta a ADUFC.
Censura
De acordo com o professor Nonato Lima, desde novembro de 2021, a presidência da FCPC vem realizando abordagens “claramente de censura” em relação ao programa Rádio Livre, apresentado por ele há 26 anos. “Depois vieram outras manifestações em relação a programa de debate, (sugerindo) outras regras, que não as jornalísticas”, continuou o docente, acrescentando que as interferências chegaram a tratar como “programa de macumba” os que se referiam à cultura religiosa afro. “Como é que você quer um programa de rádio que tenha música brasileira e que sonegue ou negue espaço pra cultura brasileira?”, questionou o professor, que fez menção, publicamente, a outra abordagem da Fundação que julgou como “truculenta, mal educada e deselegante”, enfatizando que foi “claramente censura”.
Manifestação de apoio
Na segunda (16), docentes, estudantes, técnicos e técnicas promoveram um abraço coletivo ao prédio da Rádio, numa demonstração de apreço, respeito e disposição de luta. Em nota, a ADUFC se solidarizou com Nonato Lima e a RUFM e conclamou “toda a comunidade universitária e toda a sociedade cearense a encampar essa luta juntos”.
Docentes do Curso de Jornalismo da UFC e do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFC (PPGCOM) e o Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce) também manifestaram repúdio à tentativa de censura à Rádio Universitária FM e apoio ao seu diretor afastado.
O ANDES-SN também repudia a interferência da gestão interventora na rádio e o assédio e censura sofridos pelo docente e demais integrantes da comunidade universitária da UFC.
* Com informações da ADUFC