Dois casos de racismo motivaram protestos nas universidades federais de Santa Maria (UFSM) e Ouro Preto (Ufop) nessa semana. Em Santa Maria (RS), postagens de cunho racista por um estudante em redes sociais causaram revolta da comunidade acadêmica e da população na cidade gaúcha. Já na cidade de Ouro Preto (MG), o que motivou protesto na universidade foi uma festa no fim do mês de abril, promovida pelo Centro Acadêmico da Escola de Minas, na qual estudantes de repúblicas federais e particulares se fantasiaram e difundiram o racismo por meio do “blackface”.
Centenas protestam na UFSM
Publicações de cunho racista realizadas por uma estudante da UFSM nas redes sociais levou centenas de pessoas a protestarem no campus da universidade na tarde de terça-feira (10). Portando cartazes e com palavras de ordem contra o racismo, as e os manifestantes marcharam pela universidade até a reitoria e cobrando uma investigação célere do caso.
Luiz Bonetti, integrante do DCE UFSM e do Movimento Negro Unificado (MNU), explicou as principais reivindicações levadas à reitoria. “A abertura de processo administrativo com encaminhamento para a Polícia Federal; um processo célere; a suspensão imediata da estudante enquanto ocorre o processo, a fim de garantir a segurança das e dos estudantes negras e negros; o desenvolvimento do plano de promoção de igualdade racial da UFSM; e o oferecimento de apoio psicológico e jurídico aos estudantes negras e negros”, listou.
Ainda na tarde desta terça, o Gabinete do Reitor divulgou nota em que reforça o repúdio da UFSM a todas as formas de preconceito, racismo, agressão, assédio, abuso de poder, violência verbal ou física dentro e fora da Instituição. “A UFSM comunicou à autoridade policial competente e irá instaurar processo disciplinar discente para apurar o fato. Esse tipo de manifestação fere os princípios da diversidade e da pluralidade, que constituem a sociedade e nossa instituição. A UFSM se solidariza com as vítimas, porque acredita em uma universidade plural, sem espaço para qualquer tipo de preconceito. Qualquer situação de assédio e discriminação deve ser denunciada por meio da Ouvidoria no site www.ufsm.br/ouvidoria”, expressa nota da Administração Central.
Diversos diretórios acadêmicos, coletivos e entidades posicionaram-se sobre o caso, incluindo o NEABI - UFSM (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas) e o Observatório de Direitos Humanos também se manifestaram em nota. “Expressamos nosso repúdio frente às manifestações racistas e injúrias raciais proferidas no âmbito acadêmico da Universidade Federal de Santa Maria, as quais violentam nossos estudantes negros e negras, bem como ferem os princípios da diversidade e da pluralidade que constituem a sociedade brasileira e consequentemente suas instituições. Racismo é crime. Seguiremos em luta pela responsabilização destes atos e pela construção de uma instituição que respeite a diversidade do nosso povo”, afirmaram.
Ato contra o Racismo em Ouro Preto
Estudantes, entidades diversas, coletivos, sindicatos, movimentos sociais e partidos realizaram, na quarta (11), o Ato contra o Racismo em Ouro Preto, em frente ao Restaurante Universitário do Campus Morro do Cruzeiro da Ufop.
A manifestação reuniu cerca de 250 pessoas. Com cartazes e bandeiras de luta, estudantes, docentes, técnicas e técnicos da Ufop fizeram uso da fala cobrando um posicionamento mais enérgico da Instituição, por meio de uma política de combate ao racismo. Uma comissão foi instituída para apurar o caso e seus responsáveis.
O protesto ocorreu em decorrência de um episódio em que estudantes da universidade fizeram “blackface”, prática na qual pessoas brancas se colorem com o carvão ou tinta preta para representar e menosprezar personagens negros, durante a festa “Miss Bicho”.
Em nota, a Associação dos Docentes da Ufop – Seção Sindical do ANDES-SN (Adufop SSind.) repudiou o caso e lembrou que, infelizmente, não é uma situação isolada. “O racismo, que é estruturante da sociabilidade capitalista, está presente em nosso cotidiano e na Universidade também se manifesta. Este caso, não é um caso isolado ou não intencional. Suas raízes são seculares e estão nas senzalas, no tráfico e relação de compra e venda de seres humanos, marcas da escravização do povo negro no passado colonial, e que sob o capitalismo, apenas ganham novas roupagens e se perpetuam”, destacou a nota.
“Para se combater práticas conservadoras e racistas enraizadas secularmente é preciso de muita força e atuação política organizativa! Nesse sentido, mais uma vez, o movimento estudantil, o pensamento crítico, a ciência socialmente referenciada e o combate ao conservadorismo apontam o caminho a ser assumido institucional e coletivamente”, acrescentou.
“Ressaltamos a importância de a luta sindical docente estar alinhada e se fundamentar pelos legítimos interesses da classe trabalhadora e nesse sentido, o combate às opressões e ao racismo é tarefa primeira e urgente. A ADUFOP diz não ao Racismo! A ADUFOP diz não ao Blackface!”, ressaltou a seção sindical do ANDES-SN na Ufop.
*Com informações da Sedufsm SSind., da Adufop SSind e da Assufop.