Duas crianças Yanomami morrem após serem sugadas por máquinas do garimpo em rio de Roraima

Publicado em 14 de Outubro de 2021 às 17h27. Atualizado em 14 de Outubro de 2021 às 17h40
Rios que cercam comunidades indígenas em Roraima estão contaminados pelo mercúrio do garimpo ilegal.
(Foto: Reprodução / divulgação)

Duas crianças indígenas Yanomami morreram após serem “sugadas e cuspidas” na correnteza de um rio tomado por maquinário e balsas de um garimpo ilegal na última terça-feira (12), no município de Alto Alegre, em Roraima.

De acordo com nota divulgada pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), dois meninos, de 5 e 7 anos, brincavam no rio que banha a comunidade Makuxi Yano, região do Parima, Terra Indígena Yanomami, quando foram arrastados pela água. A associação entrou em contato com o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-Y), que acionou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e solicitou apoio ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y), mas ambos não se manifestaram. O Corpo de Bombeiros também foi acionado.

O primeiro corpo, de um menino de 5 anos, foi localizado na manhã dessa quinta-feira (14) pela comunidade. O segundo segue desaparecido. “A morte de duas crianças Yanomami é mais um triste resultado da presença do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros. Até setembro de 2021, a área de floresta destruída pelo garimpo ilegal na TIY superou a marca de 3 mil hectares – um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020”, explica a nota assinada por Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara. 
Somente na região do Parima, onde está localizada a comunidade Makuxi Yano e uma das mais afetadas pela atividade ilegal, já são 118,96 hectares de floresta degradada, um aumento de 53% sobre dezembro de 2020, informa a liderança Yanomami. 

Além das regiões já altamente impactadas, como Waikás, Aracaçá e Kayanau, o garimpo avança sobre novas áreas, como Xitei e Homoxi, onde a atividade teve um aumento de 1000%, entre dezembro de 2020 e setembro de 2021. 

“O Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami se reuniu em setembro para trazer a voz da floresta e já dissemos: o aumento da atividade garimpeira ilegal na TIY está refletindo em insegurança, violência, doenças e mortes para os Yanomami e os Ye’kwana”, lembra Kopenawa. 
“As autoridades brasileiras precisam continuar atuando para proteger a Terra-Floresta e impedir que o garimpo ilegal continue ameaçando nossas vidas”, finaliza o vice-presidente da HAY. 

Procurados pela reportagem do site Jornalistas Livres, Funai, Dsei-Y, Ministério da Defesa e Ministério do Meio Ambiente não responderam aos questionamentos. 

Já são 4 crianças Yanomami mortas pelo garimpo em seis meses
Outras duas crianças, de 1 e 5 anos, morreram afogadas após caírem no rio enquanto fugiam dos disparos de garimpeiros armados que invadiram a comunidade Yakepraopë em maio, na região do Palimiu, também em Roraima. Pelo menos quatro das 15 comunidades indígenas que compõem a região, na Terra Indígena Yanomami, foram atacadas por garimpeiros ilegais nos últimos meses: Yakepraopë, Maikohipi, Korekorema e Tipolei.

O clima de ameaças contra os Yanomami se intensificou desde o dia 27 de abril deste ano, quando os indígenas interceptaram uma carga de quase mil litros de combustível para aeronaves do garimpo que descia o Rio Uriracoera, principal via de acesso aos garimpos ilegais da região. Desde o episódio, os invasores perseguem, agridem, ameaçam e atacam com balas e bombas de gás lacrimogêneo os povos originários do Palimiu.


Fonte: Jornalistas Livres, por Martha Raquel. Com edição do ANDES-SN.

Saiba mais:
Garimpeiros atiram e jogam bombas contra indígenas na Terra Yanomami (RR)


 

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