O Ministério da Educação (MEC) ignorou o aumento no número de contágios e mortes causadas pelo novo coronavírus e manteve as datas de realização do Exame Nacional do Ensino Médico (Enem). A primeira etapa da prova foi realizada nesse domingo (17), em quase todo o Brasil, com índice recorde de abstenção – 51,5%. Além disso, em vários lugares houve relatos de salas lotadas ou de proibição de entrada por excesso de estudantes nas áreas de prova.
O exame não foi realizado, por determinação judicial, nas 56 cidades do estado do Amazonas e em dois municípios do estado de Rondônia, para não aumentar a disseminação do vírus da Covid-19. O MEC tentou ainda reverter a decisão judicial, mas não obteve sucesso. Apesar desse cenário, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, considerou a realização da prova um sucesso.
Para Luiz Araújo, 3º vice-presidente do ANDES-SN, além de elevar o risco de contaminações pelo aumento na circulação de pessoas e também a permanência dos estudantes em ambiente fechado por cerca de 5 horas, a realização do Enem na atual conjuntura aprofunda um fosso enorme de desigualdade.
"Fazer a prova do Enem em meio a uma pandemia, em que várias cidades estão com alto numero de contaminação e ela [a prova] pode retroalimentar essa contaminação, é um lado da história e um dos absurdos disso foi o Governo Federal recorrer da decisão no Amazonas, apesar de toda a repercussão do que está acontecendo lá. E não é só no Amazonas que os casos estão aumentando”, afirma Araújo.
O diretor do Sindicato Nacional, que também coordena o Grupo de Trabalho de Políticas Educacionais da entidade (GTPE), destaca que os estudantes mais pobres, que não tiveram acesso à internet, que tiveram a suspensão das aulas, que não tiveram acompanhamento das aulas remotas estão muito menos preparados do que aqueles das classes média e alta, que já tinham melhor preparo.
“Agora, o fosso aumentou ainda mais. A abstenção tem menos a ver com a pandemia e mais com o reconhecimento dos estudantes de que eles e elas não estavam preparados e preparadas para fazerem a prova e teriam uma nota muito baixa registrada no sistema e, assim, era melhor então não concorrer. Um certame em que mais da metade dos alunos não foram fazer a prova mostra um fracasso retumbante. Só o ministro da Educação e o presidente do Inep consideram um sucesso o que foi, na verdade, um fracasso retumbante. E esse número de 51% de ausência vai crescer no segundo dia, pois naturalmente já há um aumento na abstenção de quem já se saiu mal no primeiro dia”, explica.
Em 2019, o Enem teve o menor índice de abstenções desde sua criação, com ausência de 23,1% dos inscritos.
#AdiaENEM
Diversas entidades sindicais, como o ANDES-SN, movimento estudantil, movimentos sociais, parlamentares e sociedade em geral vêm pressionando desde o ano passado pelo adiamento da realização do Enem.
Com a pressão social, os parlamentares chegaram a pautar um projeto no Congresso Nacional para adiar a prova e impedir sua a realização durante a pandemia. Depois disso, o MEC anunciou a suspensão do exame e realizou uma enquete entre os inscritos para definir uma nova data. Em junho de 2020, a maioria dos estudantes respondeu que a prova deveria ser transferida para maio de 2021.
“O Enem deveria ser cancelado e refeito após a pandemia, esse seria o tratamento justo em termos de acesso a um certame que virou a porta de ingresso de quase todas as universidades públicas. Ou seja, é uma atrocidade enorme você excluir os mais pobres de qualquer tipo de ingresso por uma teimosia do governo, para mostrar normalidade mantendo o Enem do jeito que foi mantido”, critica Luiz Araújo.
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