Mais de 90% do desmatamento da Amazônia é causado pela abertura de pastagens

Publicado em 04 de Outubro de 2024 às 14h37. Atualizado em 07 de Outubro de 2024 às 12h33

Entre 1985 e 2023, a pastagem foi a principal responsável pelo desmatamento da Amazônia, de acordo com análises de imagens de satélite realizadas pelo MapBiomas, projeto do Observatório do Clima que tem como objetivo mapear e monitorar a cobertura e o uso da terra no Brasil. A Amazônia é o maior bioma brasileiro e ocupa 49,5% do país (421 milhões de hectares).

Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace

Os dados divulgados, nessa quinta-feira (3), mostram que em 39 anos, o crescimento da área de pastagem na Amazônia foi de mais de 363%, passando de aproximadamente 12,7 milhões de hectares (Mha) para 59 milhões de hectares – uma expansão de 46,3Mha em menos de quatro décadas. Como resultado, em 2023, 14% da Amazônia são pastos - áreas destinadas a alimentação de animais e pastoreio.

No caso da região conhecida como Amacro, composta pelos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, a área de pastagem aumentou 11 vezes – uma expansão de 6,9Mha. Nesses 39 anos, 13% da perda líquida de vegetação nativa da Amazônia ocorreu nessa região.

Mais de 90% das áreas desmatadas na Amazônia tiveram como primeiro uso a pastagem. O desmatamento direto para agricultura teve seu ápice em 2004, com 147 mil hectares desmatados de forma direta para uso agrícola, porém caiu drasticamente nos anos seguintes, influenciado diretamente pela moratória da soja, que é um acordo entre empresas e entidades que se comprometem a não comercializar, comprar ou financiar soja produzida em áreas desmatadas na Amazônia, após 2008.

As pastagens avançaram também sobre as áreas úmidas do bioma, que perderam 3,7 milhões de hectares (5,65%), entre 1985 e 2023. Desse total, 3,1 milhões de hectares foram convertidos em pastagem; 441 mil hectares foram transformados em áreas agrícolas.

“Quando analisamos o que foi mapeado como superfície de água na Amazônia nesses 39 anos, observamos um aumento de área que é ocasionado pela criação de corpos hídricos antrópicos, como barragens e reservatórios na região. Porém se ampliarmos a análise para todas as classes úmidas (Água, Floresta Alagável e Campo Alagado), nota-se uma tendência de redução das áreas úmidas na Amazônia, o que pode já ser um forte indício de mudanças climáticas no bioma”, aponta o pesquisador do Imazon e da equipe Amazônia do MapBiomas, Luis Oliveira.

Os três estados com maior expansão de pastagem (analisando somente a porção de área dos estados dentro do bioma Amazônia) no período são Tocantins (de 33% para 74% da área do estado), Maranhão (de 14% para 48%) e Rondônia (de 6% para 39%). Esses são também os estados com menor proporção de vegetação nativa na Amazônia: Tocantins, com 21%; Maranhão, com 46%; e Rondônia, com 59%.

Área agrícola cresceu 47 vezes na Amazônia
A agropecuária, setor da economia que combina agricultura e pecuária, na Amazônia cresceu 417% em 39 anos. Mas, no caso específico da agricultura, o aumento de área no bioma entre 1985 e 2023 foi de 4.647%, ou 47 vezes. Nesse período, a área agrícola passou de 154 mil hectares para 7,3 milhões de hectares. 

A quase totalidade (97%) da área agrícola mapeada na Amazônia é de lavouras temporárias, com predomínio da soja, que responde por 80,5% do total. Em 2023, ela ocupava 5,9 milhões de hectares no bioma. A área de cana-de-açúcar aumentou progressivamente, passando de 192 hectares, em 1985, para mais de 90 mil hectares, em 2023, ou 1,23% do total da área agrícola no bioma.

A área dedicada à silvicultura cresceu de 3,2 mil hectares, em 1985, para 360 mil hectares em 2023, representando um aumento de mais de 110 vezes ao longo de 39 anos. A silvicultura se dedica ao manejo de florestas, incluindo a sua preservação, produção e uso sustentável.

Amazônia perde 14% de vegetação nativa
Foram perdidos 55,3 milhões de hectares (-14%) de área vegetação nativa nos últimos 39 anos. Desse total, 50,4 milhões de hectares eram de formação florestal, que foi o tipo de cobertura da terra que mais perdeu área nesse período, passando de 336 milhões de hectares, em 1985, para 285,8 milhões de hectares, em 2023. Com isso, no ano passado 81,3% da Amazônia eram cobertos por vegetação nativa.

Os estados com maior cobertura de vegetação nativa são Amazonas e Amapá, com 95% cada, e Roraima, com 93%.

A área de vegetação secundária vem crescendo a uma média de 0,55 Mha/ano e já responde por 2% da vegetação nativa do bioma (8,1 Mha em 2023). Vegetação secundária é aquela presente em uma área que foi desmatada anteriormente e que está em processo de regeneração da vegetação nativa.
 

Fonte: MapBiomas, com edição e acréscimo de informações do ANDES-SN

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