Pesquisa no Amazonas aborda violência contra as mulheres na universidade

Publicado em 08 de Março de 2021 às 16h53.

"Me chamaram de cabelo de bombril". Professora. "Por ser indígena, tive minha identidade questionada e minha inteligência também." Estudante. "Que mulher bonita não tem competência, é promovida por causa da beleza." Técnica.

Estes foram alguns dos depoimentos de mulheres que participaram da pesquisa “Violência contra as mulheres na universidade: uma análise nas instituições de ensino superior no Amazonas”, que contou com a participação de 1.166 pessoas das comunidades acadêmicas das instituições públicas de ensino superior do estado: Instituto Federal do Amazonas (Ifam), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

A pesquisa apontou que a violência contra a mulher é um problema crônico também no ambiente acadêmico. Das pessoas que relataram sofrer violências nas instituições, 73% são mulheres. Os resultados apontam também que, embora mulheres e homens sejam vítimas de violência, sua prática é predominantemente executada por homens, em um percentual que ultrapassa 85%.

Dos participantes, 65% são mulheres, 32% são homens e cerca de 2% se identificaram como de outro gênero. Do total, 38% afirmam que foram vítimas de algum tipo de violência no espaço universitário nos últimos cinco anos. Outros 83% avaliam que é provável a ocorrência de algum tipo de violência na universidade durante os próximos seis meses.

Formas de violência
Os registros são variados, vão desde assédio moral e sexual, estupro a discriminação social, racismo, xenofobia, homofobia, lesbofobia e transfobia. Das respondentes que foram vítimas de violência, 24,39% sofreram assédio, incluindo, na internet; 16,11% sofreram humilhação; 11,96% sofreram assédio sexual, estupro ou importunação sexual; 5,17% foram ameaçadas; 3,91% sofreram discriminação social; 4,02% sofreram furto; 1,95% sofreram discriminação racial e 1,61% foram vítimas de lesbotransfobia.

Violência Institucional
Um dos principais resultados apontados pela pesquisa diz respeito à violência institucional sofrida pelas mulheres no espaço acadêmico. De acordo com as pesquisadoras e os pesquisadores, as relações hierárquicas e o funcionamento sexista das instituições naturalizam vários tipos de violência, o que, consequentemente, dificulta sua apreensão por parte das vítimas.

A naturalização da violência também é um problema apontado pelo estudo. A sala de aula é considerada, pela maioria das e dos participantes da pesquisa, como o local mais violento para mulheres e homens na universidade. Os resultados apontam que grande parte das vítimas não oficializa denúncia e os motivos estão relacionados ao medo, à vergonha e às limitações dos canais institucionais de comunicação.

“As violências são múltiplas na universidade, desde as mais diretas até outras que, de tão naturalizadas, se confundem com a própria instituição. Nesse sentido, nossa pesquisa é uma contribuição para as universidades pensarem em políticas de segurança e proteção às mulheres e à comunidade acadêmica no geral. A sensação de insegurança e a violência são alarmantes e se colocam como impeditivos importantes para o sucesso nos projetos e carreiras acadêmicas e profissionais”, explica a coordenadora da pesquisa, professora da Ufam e diretora do ANDES-SN, Milena Barroso.

A pesquisa envolveu uma equipe multidisciplinar de pesquisadoras e pesquisadores, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e da Associação de Docentes da Ufam (Adua Seção Sindical do ANDES-SN).

Cartilha e Livro
Os resultados da pesquisa serão divulgados durante o mês de março, que concentra uma série de ações de resistência e luta das mulheres em todo o país. No final do mês, será divulgada uma cartilha com os dados que sintetizam as informações da pesquisa. A ideia é provocar a discussão mais ampla sobre a violência contra as mulheres nos espaços universitários, já que o Amazonas reflete uma realidade nacional.

“A pesquisa coordenada pela companheira, professora Milena Barroso, dialoga com as pautas do nosso sindicato e se aproxima de nossa luta contra o assédio na Universidade. Os dados confirmam aquilo que já lidamos no nosso cotidiano sindical e na realidade institucional: a violência contra as mulheres não se limita a espaços e perpassa todos os lugares, inclusive no espaço acadêmico e tem seus fundamentos nas relações desiguais de classe, raça e gênero”, explica Valmiene Farias Sousa, 2ª secretária da Adua Seção Sindical do ANDES-SN.

A Adua SSind disponibilizará a versão digital da cartilha do documento para download em seu site e distribuirá exemplares impressos para docentes da Ufam. Além disso, será publicado um livro com a participação de diversas autoras que estudam a violência contra as mulheres e se debruçaram sobre o sexismo no ambiente acadêmico. O lançamento do livro está previsto para o primeiro semestre de 2021.

“A divulgação e o apoio que Adua SSind dá a essa pesquisa responde ao reconhecimento que temos para revelar a existência desse fenômeno nas universidades  públicas do Amazonas e que afeta sobretudo, as mulheres. No entanto, nossa entidade, compreende que será necessária a cobrança às instituições de medidas objetivas de enfrentamento à violência e de mudanças para a garantia de um lugar seguro para todas as mulheres. Logo que o material digital e impresso estejam finalizados, enviaremos tanto a cartilha quanto o livro com a série de artigos desenvolvidos sobre o tema à todos/as sindicalizado/as”, acrescenta Valmiene.

"O que fazer em caso de violência no espaço acadêmico?"
Procure ajuda. Registre o caso na instituição. Se não houver espaço adequado e/ou você não se sentir confortável para denunciar a violência na instituição, busque a sua seção sindical e apoio da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres.

* com informações da Ufam e da Adua SSind.

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