Petroleiros recorrem no Cade contra venda de refinaria da Petrobras em Manaus (AM)

Publicado em 18 de Maio de 2022 às 18h35. Atualizado em 18 de Maio de 2022 às 18h39

A categoria petroleira, por meio da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás (Anapetro) e Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro-AM), decidiu entrar com recurso de terceiro interessado no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra a venda da refinaria Isaac Sabbá (Reman) da Petrobras, localizada em Manaus (AM). No dia 13 de maio, a superintendência-geral do Cade aprovou a venda da Reman ao grupo Atem. Se o negócio for concluído, será a segunda refinaria da Petrobras entregue ao controle do capital privado.

A operação de venda ao grupo Atem é questionada também por outras partes, entre elas empresas distribuidoras como Raízen, Fogás, Equador e Ipiranga, que apontam riscos de desabastecimento, de práticas abusivas e de fechamento de mercado. Elas já estão como terceiras interessadas e se opuseram à venda quando analisada pela superintendência do Cade. E também possuem 15 dias para ingressarem com recurso.

Em nota, os petroleiros afirmam que a decisão da superintendência-geral do Cade feriu parecer inicial da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que havia apontado a necessidade de “remédios” na operação, para evitar concentração de mercado, e atropelou a avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU). 
Estudos do TCU, de acordo com a FUP, indicam que “o tipo de infraestrutura logística para movimentação de combustíveis, a intermodalidade e o volume de investimentos associados podem afetar a competitividade nos mercados resultantes dos desinvestimentos e, consequentemente, o custo logístico da movimentação, aspecto determinante da percepção de vantajosidade em preços pelos consumidores finais”.

“A venda da Reman é uma fraude explícita à concorrência; um negócio realizado abaixo do preço de mercado e que vai gerar mais um nocivo monopólio regional privado, com prejuízos aos consumidores de combustíveis da região”, afirma o presidente da Anapetro, Mário Dal Zot, observando que a Reman é a única refinaria da região Norte, responsável pelo abastecimento local.

De acordo com a FUP, o preço negociado pela Petrobras para a venda da Reman ao grupo Atem é cerca de 70% inferior ao valor da Refinaria, em comparação com os cálculos estimados em estudo realizado pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). A Reman, negociada em agosto do ano passado, foi avaliada pelo Ineep pelo valor mínimo de US$ 279 milhões. O valor negociado pela estatal com o comprador foi de apenas US$ 189 milhões.

Para chegar ao valor, o Ineep utilizou o método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD), que se baseia no valor presente dos fluxos de caixa, projetando-os para o futuro. Do resultado, são descontadas: taxa que reflete o risco do negócio, despesas de capital (investimento em capital fixo) e necessidade adicionais de giro.

Para os petroleiros, a privatização da Reman é mais um episódio do contexto de desmonte da Petrobras, patrocinado pelo governo Bolsonaro. “O discurso oficial de que a privatização de refinarias seria essencial para ampliar a concorrência no mercado interno foi contrariado logo após a venda, no final do ano passado, da refinaria baiana Landulpho Alves (Rlam) e seus ativos logísticos associados ao fundo árabe Mubadala. Todos os ativos também vendidos abaixo do valor de mercado, segundo avaliações do Ineep, e do mercado financeiro, como o BTG Pactual”, afirma, em nota, a FUP.

Depois de três meses da privatização da Rlam, rebatizada de Refinaria de Mataripe, a Bahia se tornou o estado brasileiro com o combustível mais caro do Brasil, de acordo com a ANP. “A mesma refinaria está, até hoje, sem fornecer óleo bunker a navios por meio do Terminal Madre de Deus, principal ponto de escoamento da produção, por priorizar a sua exportação”, acrescenta a Federação dos Petroleiros.

*Fonte: FUP, com edição do ANDES-SN. Foto: Juarez Cavalcanti/Agência Petrobras.

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