A professora Suelen Gonçalves dos Anjos, diretora do Sindicato de Docentes da Universidade do Distrito Federal (SindUnDF - Seção Sindical do ANDES-SN), vem sendo alvo de perseguição política na UnDF. Inicialmente, a docente enfrentou um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) repleto de irregularidades, que, após mediação de advogados, foi convertido em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
O caso
No dia 28 de fevereiro de 2025, a UnDF instaurou o PAD sob as alegações de "possível ato incompatível com a moralidade administrativa" e "suposta discriminação no recinto da repartição". A acusação teve origem em uma queixa registrada na ouvidoria por um estudante, em setembro de 2024, que relatou ter sido solicitado a retirar os fones de ouvido que usava em sala de aula. Posteriormente, a queixa foi reclassificada como denúncia pela universidade.
Segundo a UnDF, a professora não garantiu as condições para que estudantes com deficiência tenham acesso e participação nas aulas. No entanto, Anjos denunciou que o processo foi conduzido de forma arbitrária e parcial, sem que outras e outros estudantes da turma ou docentes tenham sido escutados.
"Quando o caso chegou à ouvidoria, já foi classificado como denúncia, apesar de ser uma questão essencialmente pedagógica”, afirmou a docente. Ela também alertou que a universidade tem utilizado a ouvidoria para perseguir docentes, transformando situações, que poderiam ser resolvidas por meio do diálogo, em processos formais de punição.
A reclamação, de acordo com a professora da UnDF, foi feita em setembro de 2024 e permaneceu sem encaminhamento até fevereiro deste ano, sendo divulgada na sexta-feira anterior ao carnaval, o que demonstrou “um processo de tortura institucional”.
Paralelamente, outra ouvidoria foi aberta para questionar sua atuação sindical — processo que acabou sendo arquivado. De acordo com a professora, essas ações tiveram início logo após sua participação em uma entrevista a um jornal local, na qual expôs as precárias condições de trabalho na UnDF. Diante desse cenário de assédio institucional, a docente solicitou apoio jurídico ao ANDES-SN para sua defesa no PAD.
“A universidade acabou voltando atrás por conta da presença dos advogados. Conseguimos negociar com a universidade para que, em vez de manter o PAD, mudasse para TAC. Nesse termo, eu me comprometo a fazer alguns cursos e a emitir um pedido público de desculpas ao estudante”, contou.
Ela explicou ainda que, como parte do acordo, não poderá ser reincidente durante o próximo ano. “De certa forma, isso já é um indicativo de que eles nem chegaram a julgar se houve culpa ou não — apenas ofereceram o TAC. Fico, então, nesse período, de vigilância por parte da universidade. Pode acontecer, por exemplo, de chegar alguma manifestação via ouvidoria — como aconteceu com um professor que, logo na primeira semana após retornar, já recebeu uma denúncia”, alertou.
Reitoria Pro Tempore
A tramitação do PAD contra a professora Suelen Gonçalves dos Anjos coincidiu com a proximidade do fim do mandato da Reitoria Pro Tempore da UnDF, previsto para encerrar em julho de 2025. A atual gestão é formada pela reitora Simone Benck, o vice-reitor Sérgio Carreira e a secretária-executiva Suzana Rodrigues.
A Seção Sindical do ANDES-SN tem denunciado repetidas manobras da administração da universidade para manipular o processo eleitoral e se manter no poder. Segundo a SindUnDF SSind., a atual gestão buscou sua permanência por meio de três golpes: a tentativa de estender o mandato, barrada pela Procuradoria do DF; a imposição, pelo governo Ibaneis Rocha (MDB), de uma lista tríplice; e a iniciativa do GDF de modificar a legislação para prorrogar o mandato da Reitoria por mais dois anos.
Recentemente, o governo do Distrito Federal encaminhou à Câmara Legislativa do DF (CLDF) o Projeto de Lei Complementar (PLC) 69/2025, que propõe a prorrogação do mandato da atual gestão Pro Tempore da Universidade do Distrito Federal (UnDF) por mais dois anos. O projeto, se aprovado, inviabilizaria a realização de eleições democráticas na universidade.
Caroline Lima, encarregada de Assuntos Jurídicos do ANDES-SN e integrante da Comissão Nacional de Enfrentamento à Criminalização e Perseguição Política a Docente, afirmou que o Sindicato Nacional acompanhou a situação da professora Suellen Gonçalves dos Anjos, assim como outros casos de perseguição e violações de direitos contra docentes.
“Recebemos com preocupação essas denúncias que chegam ao ANDES-SN, que evidenciam, inclusive, que o governo do Distrito Federal não está garantindo condições adequadas de trabalho, estrutura ou orçamento para a UnDF. Além disso, a administração da universidade tem se caracterizado por ações antidemocráticas e pelo desrespeito aos direitos de professores, estudantes e servidores”, criticou.
De acordo com a diretora do Sindicato Nacional, a Reitoria não dialoga com as categorias e não se esforça em garantir a existência e o funcionamento do conselho universitário. “As instâncias democráticas da UnDF não funcionam, porque o que a gente observou foi um movimento autoritário da administração central da universidade, com o aval do governo do Distrito Federal, para impor à comunidade acadêmica uma política de desmonte da educação”, disse Caroline.
A docente da UnDF denunciou que docentes que integram a comissão eleitoral da universidade já estão sendo alvo de perseguição. “Temos professores e professoras que deveriam estar organizando o processo eleitoral e que, no entanto, enfrentam ataques. Dois dos quatro integrantes da comissão já têm ouvidorias abertas contra si, o que reforça ainda mais o cenário de assédio institucional e perseguição política na UnDF”, concluiu Suelen.
Exoneração
Não é o primeiro caso de perseguição na UnDF, que no ano passado exonerou o professor Gunter Ribeiro Amorim, em circunstâncias que revelam indícios de perseguição política a docentes que denunciam problemas na universidade e se engajam na luta sindical.
Na época, a seção sindical e o Sindicato Nacional denunciaram a situação e exigiram a reversão da medida. Após muita pressão, o docente foi reintegrado judicialmente.
Casos no país
Infelizmente, a situação no DF não é um caso isolado. Diversos episódios de perseguição a professoras e professores em outras instituições do país também chegam à Comissão Nacional, responsável por acompanhar e denunciar os casos de perseguições, investigações, judicializações e criminalizações de caráter político.
Casos semelhantes ocorreram na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na Universidade Estadual de Roraima (Uerr) e no caso emblemático da professora Jacyara Paiva, da Universidade Federal do Espirito Santo (Ufes).
“Vivemos um cenário autoritário e sem diálogo em nossas faculdades, universidades e institutos federais. Estamos lutando para mudar essa realidade, que se instalou, inclusive, com a política de intervenção do governo inelegível e genocida do ex-presidente - agora futuramente réu - Jair Bolsonaro”, afirmou Caroline Lima. Ela reiterou o compromisso do ANDES-SN na defesa das e dos docentes contra a criminalização da atuação sindical e contra qualquer forma de discriminação nas instituições de ensino.
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