Cerca de 10 homens armados invadiram o território quilombola Tanque da Rodagem e São João, no município de Matões, distante 300 km de São Luís (MA), na noite do último sábado (11). As e os quilombolas, que estavam em vigília, impediram que os jagunços, contratados por plantadores de soja oriundos do Paraná, retomassem dois tratores que estavam sendo utilizados ao longo do dia para o desmatamento de áreas do Cerrado. Desde então, a comunidade está exigindo a presença de algum representante da Secretaria de Segurança e do de Meio Ambiente do Maranhão, mas segue sem retorno.
Na manhã do sábado, as e os quilombolas haviam interditado uma das estradas de acesso à cidade de Matões em protesto contra o desmatamento e o despejo coletivo da comunidade de São João, devido ao avanço das plantações de soja e eucalipto. No último período, diversos moradores e moradoras têm sido coagidos a assinar acordos para que abandonem os territórios.
A Comissão Pastoral da Terra no Maranhão (CPT-MA), que acompanha a situação da comunidade, denunciou às autoridades policiais a invasão e o desmatamento do território pelos jagunços. A vegetação nativa, com árvores protegidas e espécies frutíferas que servem ao sustento do território, foi destruída com o uso do “correntão da soja”.
As denúncias sobre essa invasão foram veiculadas nas redes sociais da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e por emissoras tradicionais de televisão no Maranhão. O advogado da CPT, Rafael Silva, alertou, na ocasião, que era “preciso que as instituições do Estado do Maranhão ajam para a proteção da comunidade Tanque da Rodagem contra crimes ambientais e outros tipos de crime que se configuram por lá". Mesmo assim, a noite de sábado trouxe mais ameaças e violências.
Para Sebastião Ferreira, que há mais de 46 anos mora na região, a situação é absurda. “As pessoas chegam de fora dizendo que são donas, sem nenhum respeito à nossa história e ao nosso modo de vida. É daqui, há quatro décadas, que tiro o sustento da minha família”, afirmou.
Outra ameaça à comunidade é o uso de agrotóxicos. Em junho desse ano, as moradoras e os moradores denunciaram, à Rede de Agroecologia do Maranhão (Rama), as consequências do uso do agrotóxico pelos plantadores de soja para saúde da população e para a plantação. Foram relatados sintomas como coceira, ardência nos olhos e, ainda, que o plantio de feijão e milho estava comprometido.
No território quilombola vive mais de 50 famílias que aguardam, desde 2013, a regularização fundiária do território quilombola pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Na segunda-feira (13), representantes da Defensoria Pública do Estado visitaram o local e conversaram com a comunidade. Um ofício já havia sido enviado ao Governo do Maranhão alertando para o risco que as e os quilombolas estavam correndo.
Na manhã desta terça (14), novos relatos foram feitos de que jagunços armados estariam perto do quilombo. Esses mesmos homens teriam barrado a entrada de uma equipe da Secretaria de Igualdade Racial do Estado do Maranhão, que tentou manter contato com as e os quilombolas e não conseguiu.
Com informações da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e agências de notícias locais
Foto: Campanha Nacional em Defesa do Cerrado