“Qual universidade estamos construindo para o retorno presencial?” foi o tema do seminário promovido pela Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pelotas (Adufpel SSind.), no final maio (27 e 28). No primeiro dia, a professora da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Adriana D'Agostini, discorreu sobre o panorama do retorno presencial pelo país, percorrendo os seguintes momentos: avaliação do cenário geral, apresentação de dados de universidades, de que forma convergem os problemas enfrentados e o que se apresenta como possibilidades.
De acordo com a docente, muitos pontos convergiam entre as instituições e um dos problemas recorrentes foi em relação à discrepância entre teoria e prática. “Quase todas as instituições têm bons estudos epidemiológicos, de acompanhamento da situação da pandemia, de levantamento das condições, porém esses estudos não resultam nas realizações administrativas que precisam para um retorno seguro”, criticou Adriana.
Segundo ela, isso tudo tem acontecido devido à burocratização, ao financiamento escasso, aos cortes de verbas, à despolitização da comunidade acadêmica, entre outras questões que se agravaram nos dois últimos anos.
Situação nas IF do Rio Grande do Sul
No segundo dia, o Seminário oportunizou o compartilhamento de experiências entre as seções sindicais do ANDES-SN no RS. Participaram representantes das seções sindicais da Universidade Federal do Pampa (Sesunipampa SSind), da Universidade Federal de Santa Maria (Sedufsm SSind), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ANDES-SN/UFRGS SSind), do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (SindoIF SSind), da Universidade Federal do Rio Grande (Aprofurg SSind) e também da Adufpel SSind.
Unipampa
A primeira Seção Sindical a falar sobre o planejamento e os desafios da retomada das atividades presenciais foi a Sesunipampa SSind. O diretor Rafael da Costa Campos expôs que, nos dois últimos anos, a precarização do trabalho docente e das condições de ensino agravaram-se. Destacou a maneira como a administração da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) tem levado a cargo as políticas governamentais, desenvolvendo uma gestão completamente verticalizada e autocrática. As medidas são implementadas quase que em caráter experimental, segundo ele, e a instituição, muitas vezes, se antecipa.
Em relação à retomada do ensino presencial, destacou alguns aspectos que dificultam o funcionamento da universidade, como a precarização da estrutura e o sucateamento. Este, é um ponto de debate que tem mobilizado assembleias da categoria docente. A centralidade do problema, conforme aponta, está no orçamento reduzido dos campi. Outra questão problemática refere-se à evasão dos estudantes, que começou a ocorrer já durante o período remoto.
Desde o retorno presencial, em 25 de abril, o sindicato tem dialogado com os professores e professoras nos campi. Nesse sentido, uma caravana vem sendo realizada com o intuito de sensibilizar a categoria, principalmente nos locais onde não há uma base forte de docentes.
Furg
Na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), as atividades presenciais já foram retomadas também. O processo todo aconteceu em três fases, conforme explicou a diretora Magda de Abreu Vicente. A primeira consistiu na retomada de forma escalonada, desde o ano passado, com funcionamento reduzido. Depois, foi ampliado o atendimento à comunidade, enquanto que as atividades de ensino, pesquisa e extensão continuaram remotas. E, no dia 24 de abril, iniciou o primeiro semestre de 2022 de forma integralmente presencial em todos os campi.
A decisão não foi rebatida pela direção da Aprofurg SSind. por compreender a importância de retomar as atividades. Porém, segundo Magda, isso não impediu a Seção Sindical de olhar de maneira crítica e perceber as diversas precariedades. Uma delas é a evasão, fruto do ensino remoto.
Ela também expõe que a situação financeira da Furg retrocedeu ao orçamento de 2019. Com isso, a universidade não tem verba para além de setembro, o que tem prejudicado a estrutura, a limpeza e outras condições necessárias para o trabalho.
UFSM
Segundo Teresinha Heck Weiller, o retorno presencial na Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm), que começou em 11 de abril, está colocando em evidência todas as limitações que já existiam. Ela aponta que há uma discussão muito dura dentro da universidade em relação ao retorno e a entidade dedicou-se a cobrar da reitoria algumas condições para ele acontecer, como a exigência de passaporte vacinal e o uso de máscara. A Sedufsm SSind. também tem observado com atenção o crescimento dos casos de Covid-19.
A Seção Sindical, além disso, assim como a Sesunipampa SSind., busca a aproximação com a base e organiza uma caravana para dialogar com os professores. São realizadas visitas aos colegas que estão mais afastados da discussão, sobre o que tem afetado a categoria, e compartilhadas as pautas nacionais.
Os docentes, ainda, enfrentam problemas semelhantes aos das outras universidades, como orçamento reduzido, salas pequenas, infraestrutura precária e limpeza e segurança insuficientes.
IFRS
No Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), que encontra-se em greve, a situação é ainda mais complicada, conforme conta o diretor do SindoIF SSind., Enrique Fernández Rodríguez, já que 50% dos estudantes fazem parte do Ensino Médio - população mais frágil do ensino remoto.
A instituição retomou as aulas presenciais em março deste ano e, desde a primeira metade de abril, entre 5% e 10% do corpo docente afastou-se por Covid-19. Até agora, cerca de 40% já se contaminou. Entre os estudantes, em torno de 10% estão ausentes pela doença. Ainda, há afastamentos por questões psicológicas e as condições de trabalho são inseguras. Enrique conta que muitos servidores acabam se envolvendo em acidentes por viagens longas e cansativas de deslocamento entre os campi.
Durante a pandemia, o orçamento foi ainda mais reduzido e a previsão para este ano é de R$ 2 milhões - valor abaixo de 2014, quando iniciaram os cortes, quando havia metade do número de alunos, menos professores e técnicos. Esta, segundo o docente, é a questão mais grave atravessada pela universidade. Além disso, não há refeitórios nem moradia estudantil.
Para o retorno, a instituição também mantém o uso obrigatório de máscara e a exigência do passaporte vacinal.
UFRGS
A situação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é caótica desde setembro de 2020, quando a universidade sofreu intervenção do governo federal, como salienta a diretora da Seção Sindical do ANDES-SN/UFRGS SSind., Magali Mendes de Menezes.
Os problemas decorrentes disso são muitos. Inexiste diálogo e a reitoria gere a instituição a serviço de um projeto político semelhante ao que ocorre no país. O momento é caótico e crítico, segundo Magali, desde o início da pandemia. O modo de gerir é de imposição e isso afeta as questões pedagógica, emocional e psicológica, desde a manutenção da estrutura, condições de trabalho e estudantis, ou seja, tudo que diz respeito ao funcionamento da universidade.
A UFRGS irá retomar as atividades presenciais referentes ao calendário de 2022/1 em 13 de junho sem ter planejado nenhuma forma de preparação para o processo. A comunidade acadêmica sairá do modo remoto diretamente para o presencial integral. A criação de condições foi deixada para as direções das unidades.
Além disso, a reitoria tem passado por cima do Conselho Universitário na tomada de decisões e não há transparência de dados. Ainda, a UFRGS encontra-se sucateada e não apresenta mínimas condições de trabalho para o retorno, de acordo com a docente.
A cobrança do passaporte vacinal como critério para a matrícula foi exigida pelo comitê de retorno presencial, criado pelo movimento dos servidores, mas o processo foi dificultado pela reitoria, que afirmou não haver estrutura para incluir esse mecanismo no sistema.
Segundo a diretora, a comunidade acadêmica vivencia um momento de violência administrativa, mas tem se empenhado e fortalecido o movimento de resistência política dentro da universidade.
Ufpel
O relato sobre o cenário da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) foi apresentado pela diretora da Adufpel SSind., Valdelaine da Rosa Mendes, que fez uma retrospectiva da implementação do ensino remoto emergencial na universidade nos dois últimos anos, que incluem inúmeras dificuldades referentes à estrutura, condições de teletrabalho, falta de materiais adequados, medidas sanitárias para o retorno, entre outras questões que vêm sendo cobradas à gestão central.
Valdelaine também relembrou a intervenção ocorrida na instituição. Em janeiro de 2021, a chapa eleita para estar à frente da gestão decidiu acatar a decisão antidemocrática do presidente Jair Bolsonaro, de nomeação de Isabela Andrade como reitora da instituição mesmo não tendo sido eleita pela comunidade.
Além disso, a professora reivindicou que as pautas das categorias sejam tratadas sempre conjuntamente, pelas três categorias perante a administração da universidade, e criticou a prática da reitoria em estabelecer uma relação via “Google Docs” para o preenchimento de considerações acerca da situação na universidade. A diretoria da Adufpel SSind. tem exigido um processo sério, aberto e democrático de avaliação sobre o período de trabalho remoto, o que não é estabelecido por meio desses formulários.
Na sequência, após uma rodada de conversa, a realidade vivenciada pela comunidade da UFPel foi aprofundada. Nela, estiveram presentes a presidenta da Adufpel SSind., Regiana Blank Wille, o representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Cássio Lilge, a coordenadora Geral do ASUFPel-Sindicato, Mara Beatriz Gomes e a representante do Sinasefe IFSul, Daniela da Rosa Curcio.
*Fonte: Adufpel SSind. com edição do ANDES-SN. Fotos: Adufpel SSind.