Na noite de sexta-feira (17) teve início o VIII Seminário Nacional de Saúde do(a) Trabalhador(a) Docente do ANDES-SN, com o tema “Trabalho docente: implicações na saúde e reflexos na vida”. O evento acontece até domingo (19) na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e é organizado pelo Grupo de Trabalho de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA) do Sindicato Nacional, em conjunto com a Associação de Docentes da USP (Adusp - Seção Sindical do ANDES-SN).
Na mesa de abertura estiveram presentes as diretoras do Sindicato Nacional, Zuleide Queiroz, 2º vice-presidenta, e Michele Schultz, 1ª secretária da Regional São Paulo e presidenta da Adusp SSind. e, também, Amauri Fragoso, 1º tesoureiro do ANDES-SN. Representantes de outras entidades sindicais, estudantis e de coletivos também compuseram a mesa, como Rosane Meire, do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Joana Ferreira, do Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE-USP), Mário Balanco, do Coletivo Butantã na Luta, e Carmen Ortiz, da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde e do Fórum Popular de Saúde SP.
As e os representantes das entidades contaram um pouco da luta em defesa do Hospital Universitário (HU/USP), que sofre há anos com ataques, sucateamento e tentativas de desvinculações da universidade. Citaram, ainda, tantos outros hospitais universitários que estão sob gestão das Organizações Sociais. Para as convidadas e os convidados, é imprescindível a luta em defesa dos hospitais universitários, da saúde, dos serviços públicos e de uma universidade para todas e todos.
Logo após a mesa de abertura, ocorreu uma intervenção artística do grupo “Slam Letra Preta”, formado por Suilan, Mônica e Bruna, da Biblioteca Comunitária Solano Trindade, localizada na Zona Leste de São Paulo. Com poemas autorais, as integrantes denunciaram a violência de gênero vivida não apenas por elas, mas por milhões de brasileiras. E, ainda, resgataram poemas de Solano Trindade, poeta negro e comunista de Recife, do século XX.
Primeira mesa
A primeira mesa do seminário debateu o tema “A Pandemia, Ensino Remoto, Intensificação da Precarização do Trabalho e Adoecimento Docente”. As professoras Camila Holanda Marinho, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), e Flávia Bulegon Pilecco, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), expuseram em suas apresentações pesquisas e depoimentos sobre a saúde docente.
Segundo Camila Holanda Marinho, existem muitas cobranças no mundo acadêmico e uma delas é pela produtividade. Em sua avaliação, a pandemia da Covid-19 intensificou esse processo de precarização. A docente apresentou os resultados de uma pesquisa realizada em agosto de 2020 na Uece e de outra na Universidade Federal da Bahia (Ufba) que demonstram quais os principais fatores de adoecimento docente sob os efeitos da pandemia.
“A pandemia provoca essa ideia da gente repensar o trabalho docente, a partir do tempo que é vinculado com essa ampliação das tecnologias interferindo [em nossas vidas], como as reuniões virtuais, de pensar os deslocamentos, o lugar das atividades remotas, não apenas de ensino, mas as outras atividades burocráticas que fazem parte do trabalho docente. Essa questão do adoecimento está relacionada pela lógica de produtividade, que a pandemia traz uma nova faceta, exatamente porque as tecnologias fazem – de certa forma - com que a gente não pare nunca, e que não podemos desligar”, ressaltou.
Para ela, a pandemia fez com que as e os docentes repensassem as questões do processo de adoecimento, o tempo para o trabalho e os usos das tecnologias não apenas para a categoria docente como para as e os discentes. “É exatamente a questão das consequências, dos impactos na saúde física e mental, tanto dos docentes quanto dos estudantes. Pensar como foi essa experiência para eles do outro lado da telinha, dentro das precariedades de vida que eles têm, porque é uma ilusão achar que as elites estão nas universidades públicas. É a população mais empobrecida que está lá e que tem essa dificuldade de acessar as tecnologias e as políticas de cuidado da saúde mental e corporal”, afirmou.
A professora da Uece citou um trabalho realizado por docentes da sua universidade como o “Memórias de Quarentena”, que é uma obra que nasceu coletivamente e com o objetivo de partilhar a vida em textos, num momento de medos, inseguranças e instabilidades vividas na pandemia de Covid-19. A obra virou um registro em e-book narrada através de 74 textos.
Flávia Bulegon Pilecco (UFMG) também trouxe reflexões sobre a intensificação da precarização do trabalho docente na pandemia e como a omissão não apenas dos governos, mas também das universidades contribuíram para esse adoecimento.
“A gente não se baseou em critérios epidemiológicos para voltar ao ensino presencial, as atividades presenciais voltaram por pressão política e midiática. Rifamos a saúde de estudantes e professores. Para quê e pra quem? Voltamos ao presencial após mais de dois anos de ensino remoto emergencial e, nesse período, sentimos o isolamento profissional e social que trouxeram impactos na produção de conhecimento, da ciência. Várias universidades não deram o apoio - logístico e financeiro - aos docentes”, refletiu.
De acordo com a docente da UFMG, a pandemia ainda reforçou as desigualdades de gênero no mercado de trabalho, com a sobrecarga de cuidado com filhas e filhos e afazeres domésticos. “Não podemos esquecer também o acúmulo do trabalho docente com o doméstico – principalmente para as mulheres que ainda tiveram acrescentado a sua rotina o cuidado com outros familiares – o que intensificou esse adoecimento”, disse. “Por isso tudo, precisamos valorizar e respeitar a saúde dos docentes e discentes”, completou.
VIII Seminário
O VIII Seminário Nacional de Saúde do(a) Trabalhador(a) Docente do ANDES-SN é o primeiro evento do Sindicato Nacional sobre saúde do trabalhador e da trabalhadora docente desde o início da pandemia de Covid-19. O último ocorreu em 2019, na cidade de Campina Grande (PB). O evento terá continuidade neste sábado (18) no Anfiteatro Parasitologia da Faculdade de Medicina da USP.
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