Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento da Amazônia atingiu a marca de 13.235 km² quadrados, entre 1º de agosto de 2020 e 31 julho de 2021. O número representa uma alta de 22% na comparação com o ano anterior.
Esse é o maior nível de devastação da Amazônia dos últimos 15 anos. Em 2006, o levantamento aprontou 14.286 km² destruídos. Além disso, a alta é a terceira consecutiva desde o início do governo Bolsonaro, e também a primeira vez desde 1988, ano de início das medições, que a devastação sobe por quatro anos seguidos.
Na segunda-feira (22), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, convocou uma coletiva e declarou que considera “inaceitáveis” os números sobre o desmatamento na Amazônia e que irá atuar de forma “contundente” contra os crimes ambientais. No entanto, até o momento o governo não divulgou nenhuma medida concreta para barrar as ações criminosas.
Ao contrário, desde que assumiu a presidência Jair Bolsonaro e seus ministros vêm promovendo o desmonte dos órgãos de controle, fiscalização e defesa ambiental e perseguindo servidores e servidoras que se posicionam contra a política de apoio à grilagem e desmatamento. Em três anos de governo, a média do desmatamento é de 11.405 quilômetros quadrados anuais, um número 51% maior do que em 2018, último ano do governo Temer, e 75% maior do que a média dos dez anos anteriores (2009-2018).
Em defesa de interesses do agronegócio, de madeireiras, mineradoras e garimpo ilegal, Bolsonaro adotou uma política totalmente anti-ambiental e de desmonte da fiscalização e controle.
No primeiro dia de governo, o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia foi abandonado. O Ibama, a quem Bolsonaro chamou de “indústria da multa”, e o ICMBio foram desmontados, com falta de investimentos, e militarizado. Com o ex-ministro Ricardo Salles, o Ministério do Meio Ambiente agiu de forma consciente para “passar a boiada” nas regulações ambientais.
Chuva de agrotóxicos para desmatar
Em razão do sucateamento e militarização dos órgãos de controle, além do aumento do garimpo ilegal, desmatamento, invasão de territórios indígenas e de povos originários, vem ocorrendo fatos absurdos como o revelado por um levantamento inédito do Repórter Brasil e da Agência Pública.
Para acelerar o desmatamento de grandes áreas e abrir espaço para a soja e o gado, fazendeiros estão jogando grandes quantidades de agrotóxicos de avião sobre a floresta Amazônica e outros biomas. Nos últimos 10 anos, cerca de 30 mil hectares de vegetação nativa foram literalmente envenenados. A área corresponde a 30 mil campos de futebol.
Segundo o Observatório do Clima, a maior parte (46%) dos gases estufa emitidos pelo país são provenientes do desmatamento. De acordo com a organização, o Brasil continua, desde 2010, a ampliar suas emissões. No ano passado, em plena pandemia, o aumento do despejo de gases de efeito estufa, pelo país, na atmosfera, foi de 9,5%. No restante do mundo, porém, houve uma redução de cerca de 7%.
“O resultado é fruto de um esforço persistente, planejado e contínuo de destruição das políticas de proteção ambiental no regime de Jair Bolsonaro. É o triunfo de um projeto cruel que leva a maior floresta tropical do mundo a desaparecer diante dos nossos olhos e torna o Brasil de Bolsonaro uma ameaça climática global”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
“Diferentemente da propaganda que o governo e seus aliados no agro e na indústria levaram à COP26, em Glasgow, o Brasil real é este, da terra arrasada, da violência contra populações tradicionais e do crime organizado agindo sem controle na Amazônia”, lamentou Astrini.
Segundo ele, para resolver o problema, a condição ímpar é a mudança do governo. “Não existe a menor possiblidade de ter esperança com Bolsonaro na presidência da República”, pontuou.
Ataques no Congresso
No Congresso, tramitam atualmente pelo menos cinco projetos de lei que podem piorar ainda mais a situação: os PLs 2.633 e 510, que anistiam a grilagem; o PL 3.729, que praticamente extingue o licenciamento; e os PLs 490 e 191, que ameaçam as terras indígenas. Todos apoiados pelo governo Bolsonaro e pela bancada ruralista.
Fonte: CSP Conlutas, com informações Repórter Brasil e Observatório do Clima. Edição do ANDES-SN.