A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Rondônia (Adunir - Seção Sindical do ANDES-SN) publicou, no sábado (12), uma nota em defesa do caráter laico da Universidade Federal de Rondônia. O posicionamento do sindicato foi motivado pela ocupação inesperada dos espaços do campus da instituição por membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
De acordo com a nota, no dia 11 de outubro de 2024, a comunidade acadêmica do campus José Ribeiro Filho, em Porto Velho (RO), foi surpreendida por uma movimentação incomum. Barracas foram montadas em salas de aula, chuveiros e cozinhas instalados e até uma réplica do “parque de dinossauros” foi instalada, gerando perplexidade entre os presentes.
A Adunir SSind. destacou a indignação da categoria com o desrespeito da reitoria, que não comunicou previamente a comunidade da universidade, impedindo a adaptação das atividades acadêmicas, incluindo as pesquisas que estavam em andamento. "A comunidade acadêmica, interpelando a reitoria por canais oficiais e extraoficiais, Prefeitura do campus, Ascom e outros integrantes da Administração Superior, só obteve um silêncio sepulcral", denunciou a seção sindical do ANDES-SN.
Ao acessar o Sistema Eletrônico de Informações (SEI), a entidade descobriu a verdade. O evento em questão era uma solicitação da Igreja Adventista do Sétimo Dia para uso do campus, nos dias 11, 12 e 13 de outubro, para um encontro de escoteiros, organizado pela referida igreja por meio do “Clube de Aventureiros”, e com expectativa de reunir cerca de 2 mil participantes.
O pedido incluía ainda o uso de espaços como o Restaurante Universitário (RU), um local historicamente conquistado pela comunidade acadêmica durante greves e protestos. Segundo a nota da seção sindical, a reitora Marília Pimentel autorizou o encontro nas dependências da Unir justificando que "eventos como este são importantes para enriquecer a experiência educacional de nossos jovens". Além disso, o vice-reitor Denny William Mesquita, membro do "Clube de Aventureiros", foi designado para coordenar o evento.
A Adunir SSind aproveitou, em nota, para destacar os problemas estruturais enfrentados pela comunidade acadêmica, como salas sem ar-condicionado, infestação de animais peçonhentos, falta de água e a presença de mosquitos, problemas recorrentes que continuam sem solução, apesar das constantes reivindicações. No entanto, “para atender à demanda externa, de uma entidade religiosa, negacionista da ciência, a reitoria da Unir envidou inúmeros esforços, inclusive o fumacê, para garantir as melhores condições de instalação dessa instituição obscurantista e a caturra denominada ‘desbravadores’”, disse.
A seção sindical cita ainda o artigo 19, inciso I, da Constituição Federal, que estabelece que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, estabelecer cultos religiosos, subvencioná-los, manter com eles, ou seus representantes, relações de dependência ou aliança.
Por fim, o sindicato reforçou seu repúdio à realização da atividade religiosa, que foi organizada de forma sigilosa pela reitoria. “Defendemos um Estado laico, a liberdade de crer ou não crer e de manifestação de diferentes religiosidades, mas nos templos, igrejas e outros espaços culturais. A universidade pública é laica, e cedê-la para atividades religiosas, fere sua natureza histórica e científica”, concluiu a nota. Acesse aqui a íntegra.
*Foto: Divulgação/Unir